Sisão, símbolo dos sistemas cerealíferos extensivos da Península Ibérica

Rui Borralho
Imprimir
Texto A A A

O Sisão constitui um símbolo dos sistemas cerealíferos extensivos da Península Ibérica, sendo uma ave típica dos mosaicos de searas, pousios e pastagens de uma agricultura tradicional que está em risco de desaparecimento.

 

 

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O Sisão Tetrax tetrax é uma ave da ordem dos gruiformes com a dimensão aproximada de uma galinha, tendo pouco mais de 40 cm de comprimento e cerca de 90 cm de envergadura. Na época de reprodução o macho possui penas cinzentas e negras na cabeça e no pescoço, com uma "gravata" branca. No Inverno apresenta a mesma plumagem pardacenta da fêmea. É uma ave tímida, que levanta voo facilmente a uma distância apreciável do observador. A voar faz lembrar um pato ou um ganso, sendo muito visíveis as grandes manchas brancas da sua plumagem. Os machos em voo produzem um silvo típico, devido a uma pena modificada que possuem nas asas (4ª primária - "alula"), silvo este que se torna particularmente audível quando somos sobrevoados pelos grandes bandos que por vezes se formam no Inverno.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

Distribui-se desde o Norte de Marrocos e Península Ibérica até à Ásia Central, ainda que esteja ausente da maior parte do Centro e Norte da Europa, ocorrendo em dois núcleos principais: na Península Ibérica e numa vasta área entre a Ucrânia e a Sibéria Ocidental. As suas maiores populações europeias são a espanhola, estimada em mais de 200.000 indivíduos, e a portuguesa, que rondará as 15.000 aves. A maior parte da população portuguesa de sisões encontra-se no Baixo e Alto Alentejo, ainda que ocorra desde o Algarve até Trás-os-Montes. A Norte do Tejo surge sobretudo junto à fronteira, sendo muito menos frequente a norte da Beira Baixa. No Algarve também é bastante menos comum do que no Alentejo. Em locais de habitat particularmente favorável (como nos pousios de cereal da região de Castro Verde), foram estimadas densidades primaveris de machos próximas de 25 machos por km2, valor excepcionalmente elevado em termos mundiais.


ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Aparentemente a população portuguesa está estável, ainda que a intensificação agrícola associada ao regadio (actual e previsível) de vastas áreas alentejanas constitua uma ameaça, tal como o êxodo rural e abandono agrícola de outras zonas. É considerada uma espécie não ameaçada pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. No resto da Europa está em declínio, regressão essa mais acentuada nos extremos dos seus núcleos de distribuição, como em França. Em termos europeus é considerada uma espécie vulnerável, sendo englobada na categoria SPEC 2 (SPEC corresponde a Species of European Conservation Concern - espécies que suscitam preocupações de conservação a nível europeu), relativa a aves que possuem uma população global maioritaria ou totalmente ocorrente na Europa e com um estatuto de conservação desfavorável.

 

HABITAT

Frequenta sobretudo zonas abertas de agricultura extensiva, como pousios, searas de cereal e pastagens, ainda que ocorra igualmente em áreas fracamente arborizadas, como em montados de sobro e azinho abertos e nas orlas de olivais. Concentra-se por vezes em parcelas de leguminosas (por exemplo, luzerna, gão-de-bico) e em meloais para se alimentar.


ALIMENTAÇÃO

Consome uma grande variedade de grãos, folhas frutos e talos de diversas espécies de plantas. Sobretudo no Verão, alimenta-se também de insectos e de outros invertebrados.


REPRODUÇÃO

Os machos surgem com a sua plumagem primaveril a partir de Abril, realizando a sua parada nupcial em pequenas "arenas" de parada. Nestas, os machos abrem a cauda em forma de leque, esticam as asas para frente e levantam as penas do pescoço realçando as suas manchas brancas, pavoneando-se de um lado para o outro e saltando enquanto lançam um chamamento característico ("prrrt") de tempos a tempos. As fêmeas aproximam-se do local onde os machos realizam a parada para aí realizarem a cópula. Retira-se depois para nificar, incubando sózinha 3 a 4 ovos num ninho preparado sobre o solo, no meio de erva alta (pousios, searas). Os recém-nascidos são nidífugos, isto é, saem do ninho e acompanham a mãe pouco depois do nascimento.

 

MOVIMENTOS

É uma espécie residente no nosso País, ainda que no Inverno se junte frequentemente em grandes bandos, que chegam a atingir mais de 500 indivíduos e que podem percorrer distâncias apreciáveis. Estudos em curso, em que foram colocados emissores-rádio com recepção por satélite em sisões, revelaram que aves capturadas em França foram a Espanha invernar e uma ave capturada na região de Campo Maior, tem-se deslocado até diversas zonas do Alto Alentejo, entrando por vezes em Espanha.


CURIOSIDADES

O Sisão foi particularmente beneficiado pelo Plano Zonal de Castro Verde, um plano agro-ambiental que concede subsídios aos agricultores para a implementação de práticas agrícolas favoráveis à avifauna. Num período de 4 anos, registaram-se variações positivas na sua abundância da ordem dos 15-30% nos locais onde as medidas foram aplicadas.


LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

É fácil de encontrar nas planícies alentejanas, em particular em zonas de agricultura extensiva, como por exemplo na região de Castro Verde (Campo Branco), em redor de Évora, Campo Maior ou Elvas.

Comentários

Newsletter