O Sisão constitui um símbolo dos sistemas cerealíferos extensivos da Península Ibérica, sendo uma ave típica dos mosaicos de searas, pousios e pastagens de uma agricultura tradicional que está em risco de desaparecimento.
IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
O Sisão Tetrax tetrax é uma ave da ordem dos gruiformes com a dimensão aproximada de uma galinha, tendo pouco mais de 40 cm de comprimento e cerca de 90 cm de envergadura. Na época de reprodução o macho possui penas cinzentas e negras na cabeça e no pescoço, com uma "gravata" branca. No Inverno apresenta a mesma plumagem pardacenta da fêmea. É uma ave tímida, que levanta voo facilmente a uma distância apreciável do observador. A voar faz lembrar um pato ou um ganso, sendo muito visíveis as grandes manchas brancas da sua plumagem. Os machos em voo produzem um silvo típico, devido a uma pena modificada que possuem nas asas (4ª primária - "alula"), silvo este que se torna particularmente audível quando somos sobrevoados pelos grandes bandos que por vezes se formam no Inverno.
DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA
Distribui-se desde o Norte de Marrocos e Península Ibérica até à Ásia Central, ainda que esteja ausente da maior parte do Centro e Norte da Europa, ocorrendo em dois núcleos principais: na Península Ibérica e numa vasta área entre a Ucrânia e a Sibéria Ocidental. As suas maiores populações europeias são a espanhola, estimada em mais de 200.000 indivíduos, e a portuguesa, que rondará as 15.000 aves. A maior parte da população portuguesa de sisões encontra-se no Baixo e Alto Alentejo, ainda que ocorra desde o Algarve até Trás-os-Montes. A Norte do Tejo surge sobretudo junto à fronteira, sendo muito menos frequente a norte da Beira Baixa. No Algarve também é bastante menos comum do que no Alentejo. Em locais de habitat particularmente favorável (como nos pousios de cereal da região de Castro Verde), foram estimadas densidades primaveris de machos próximas de 25 machos por km2, valor excepcionalmente elevado em termos mundiais.
ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Aparentemente a população portuguesa está estável, ainda que a intensificação agrícola associada ao regadio (actual e previsível) de vastas áreas alentejanas constitua uma ameaça, tal como o êxodo rural e abandono agrícola de outras zonas. É considerada uma espécie não ameaçada pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. No resto da Europa está em declínio, regressão essa mais acentuada nos extremos dos seus núcleos de distribuição, como em França. Em termos europeus é considerada uma espécie vulnerável, sendo englobada na categoria SPEC 2 (SPEC corresponde a Species of European Conservation Concern - espécies que suscitam preocupações de conservação a nível europeu), relativa a aves que possuem uma população global maioritaria ou totalmente ocorrente na Europa e com um estatuto de conservação desfavorável.