Rato-caseiro, um vizinho indesejável

Alexandre Vaz
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O Rato-caseiro é extremamente adaptável, o que lhe permite ocupar os mais diversos, e muitas vezes curiosos, habitats. Com um excepcional potencial reprodutor, este pequeno roedor pode facilmente atingir o estatuto de praga.

 

 

CARACTERÍSTICAS

O Rato-caseiro Mus domesticus é um mamífero placentário, roedor, pertencente à família Muridae, e que segundo alguns autores representa uma subespécie de Mus musculus. Este pequeno roedor, de hábitos essencialmente nocturnos e orelhas grandes, pode apresentar pelagens de cores bastante distintas. Frequentemente são cinzentos ou acastanhados, com o ventre mais claro, mas podem também surgir formas negras, albinas, ou até desprovidas de pêlo. Os olhos são pretos e brilhantes, salvo em casos de albinismo, em que são rosa avermelhados. A dimensão é também bastante variável; os indivíduos que habitam, por exemplo, em câmaras refrigeradas costumam ser maiores e os que vivem no exterior tendem a ser mais pequenos, com a cauda mais curta. Em regra, o comprimento do corpo e cabeça varia entre os 70 e os 92 mm, sendo o comprimento da cauda idêntico. O peso varia entre os 10 e os 41 gramas.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

Calcula-se que esta espécie seja originária do Sul e do Leste da Europa, do Próximo e Médio Oriente, e do Norte de África. Actualmente, e fruto da acção do Homem, encontra-se presente em quase todas as regiões habitadas do planeta, incluindo a América do Norte e do Sul, toda a África, a Austrália e um grande número de ilhas oceânicas. Na Europa distribui-se de forma contínua, dando lugar, na Europa de Leste e na Escandinávia, à sua congénere Mus musculus, ocorrendo hibridação nalgumas zonas de simpatria. Em Portugal ocorre em todo o território continental e insular.

 

É uma espécie comum ao longo da sua distribuição, que está ausente apenas de regiões francamente desfavoráveis, como sejam, por exemplo, as zonas de montanha. A espécie atinge frequentemente o estatuto de praga, causando pesados danos ao nível dos recursos alimentares armazenados ou de colheitas. É também um vector de várias patologias que atingem o Homem.

As populações que vivem no exterior costumam ser maiores, ainda que em menor densidade do que as que vivem em construções humanas. No exterior, as densidades variam frequentemente entre os 60 e os 875 indivíduos por hectare. Nos Estados Unidos da América foi calculado que num aviário de galinhas existia uma densidade de 70 000 indivíduos por hectare.


ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Nulo.

HABITAT

Como o seu nome científico e vernáculo atestam, esta é uma espécie extremamente bem adaptada a partilhar as estruturas humanas. Não obstante, é bastante ecléctica e ocorre igualmente com sucesso em ambientes selvagens. Actualmente assiste-se inclusivamente a um processo inverso ao que sucedeu no passado, ou seja, das populações residentes em meios urbanos estão a sair indivíduos para colonizar meios silvestres, como campos agrícolas, cordões dunares, zonas de matos e florestas.

À semelhança da Ratazana-preta, Rattus rattus, e ao contrário da Ratazana-de-água, Rattus norvegicus, esta espécie prefere ambientes razoavelmente secos e por isso rejeita nas cidades os sistemas de esgotos, preferindo sótãos ou armazéns. Nos meios rurais habita também em celeiros, galinheiros e até nas próprias casas. É de resto curioso verificar que podem partilhar com os humanos o mesmo espaço durante bastante tempo, sem que estes se apercebam.

ALIMENTAÇÃO

Na natureza, os ratos-caseiros alimentam-se fundamentalmente de vegetais, em particular de grãos e sementes, mas podem complementar a sua dieta com insectos. Quando vivem em redor dos humanos podem adaptar-se ao consumo exclusivo de restos de comida ou mesmo, quando habitam armazéns de carne, a uma dieta totalmente carnívora.


REPRODUÇÃO

Os ratos-caseiros iniciam a reprodução às seis semanas de idade. As populações campestres reproduzem-se fundamentalmente na Primavera e no Verão, mas as que residem em estruturas artificiais podem fazê-lo durante todo o ano. As fêmeas podem ter até dez ninhadas por ano, com 5 ou 6 crias por ninhada, podendo ocasionalmente chegar às 12. Os ratos-caseiros, podem rapidamente adaptar a frequência e o tamanho das suas ninhadas à disponibilidade de alimento e à dimensão da população. A gestação dura 19 ou 20 dias, e as crias nascem cegas e sem pêlo e são desmamadas ao 18º dia.

 

Em liberdade vivem, em média, até aos 3 anos, mas em cativeiro podem chegar aos 6 anos. Apresentam uma estrutura social fraca e só em caso de superpopulação é que se estabelece uma hierarquia, em que a reprodução fica exclusivamente reservada ao macho dominante.

CURIOSIDADES

Os ratos-caseiros que vivem em meios selvagens juntam provisões para o Inverno. Numa situação particular foram encontrados 16 kg de alimentos armazenados para este fim.

Apesar de ser uma espécie extremamente bem adaptada a muitas situações ecológicas diferentes, as populações que se adaptam a sobreviver em interacção com o Homem, passado algum tempo deixam de conseguir sobreviver sem ele. Por exemplo, quando em 1930 a ilha de St. Kilda, ao largo da Escócia, foi abandonada pelas famílias que lá haviam vivido durante séculos, a população de ratos-caseiros acabou por se extinguir.

Apesar de esta ser uma espécie que tem causado inúmeros prejuízos ao Homem, convém não esquecer que, através do sacrifício de muitos destes animais em laboratório, tem sido possível fazer muitos progressos científicos.

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