Ficha do Flamingo

Alexandre Vaz
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O Flamingo-comum é uma das mais graciosas e estranhas aves da fauna mundial, resultado inesperado da adaptação aos meios aquáticos que frequenta. É comum nalgumas zonas húmidas do nosso País, embora apenas haja um registo de nidificação em território nacional.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O flamingo-comum (Phoenicopterus ruber) é uma ave pernalta que pertence à família Phoenicopteridae e à Ordem dos ciconiformes. É a ave mais alta da nossa fauna, podendo ultrapassar o metro e meio. Em média os machos são um pouco maiores e têm o pescoço mais comprido do que as fêmeas. A envergadura dos flamingos varia entre os 140 e os 165cm. A sua plumagem apresenta uma variação considerável entre o rosa pálido e um rosa mais intenso. As penas de cobertura das asas são cor de rosa vivo e as penas de voo são pretas. As patas, tal como o bico, com excepção da ponta que é preta, são igualmente cor de rosa. Os juvenis têm o pescoço e as patas mais curtos e a plumagem que inicialmente é castanho-acinzentado vai, à medida que o indivíduo se aproxima da maturidade, sendo substituída por uma plumagem branca e finalmente rosada.


DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

A distribuição do flamingo-comun estende-se desde as Galápagos até à Índia, passando pelas Caraíbas, pela bacia do Mediterrâneo, pelas costas de África e pelo próximo e médio Oriente. Na Europa, a espécie distribui-se quase exclusivamente pelos países da orla mediterrânea. O seu comportamento reprodutor apresenta uma plasticidade bastante grande como resposta à abundância de recursos, podendo em alguns anos não se chegar a reproduzir nos locais historicamente mais favoráveis. As principais colónias europeias, que podem reunir 20 000 indivíduos, situam-se no Sul de França, na Camargue. Em Espanha, os flamingos também se têm reproduzido, de forma mais ou menos regular, desde o delta do Ebro até ao Guadiana. Em 1990, só na lagoa de Fuentedepiedra, na Andaluzia, 13 316 casais produziram 10 417 crias.

Em Portugal, os flamingos ocorrem principalmente na faixa costeira da metade Sul do país, com destaque para os estuários do Tejo e do Sado, a ria de Faro e o sapal de Castro Marim. Em menor número, ocorrem em algumas lagoas costeiras, como a de Óbidos ou Santo André e também em albufeiras do interior do Alentejo. Apesar de estarem presentes em Portugal durante todo o ano, nunca foi possível confirmar a nidificação da espécie no nosso país. A população nacional conta com um elevado número de indivíduos imaturos não reprodutores. O efectivo populacional europeu reflecte a dinâmica que se estabelece com as populações do Norte da África, daí que os valores possam oscilar grandemente. Crê-se que a população nidificante europeia se situe entre os 15 e os 35 mil indivíduos, mas o total dos flamingos do Mediterrâneo Ocidental pode atingir os 80 000. Em Portugal, as variações inter-anuais são também bastante acentuadas, atingindo-se picos da ordem dos 3 milhares de indivíduos.

 


ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Apesar de se tratar de uma espécie bastante sensível à poluição das águas e à perturbação, particularmente durante o período de nidificação, a população de flamingos está a aumentar em alguns países da Europa. Esse facto fica provavelmente a dever-se à circunstância das principais colónias se situarem em áreas protegidas. Em todo o caso, os habitats utilizados pela espécie são altamente perecíveis, e por isso ela está classificada na Europa como uma SPEC 3, espécie cuja população global não está concentrada na Europa, mas que tem um estatuto de conservação desfavorável nesse continente. Para este estatuto, contribui ainda o facto da população europeia estar altamente concentrada num número reduzido de locais, sendo por isso muito mais vulnerável.


HABITAT

O flamingos frequentam estuários, salinas, tanques de pisciculturas e lagoas costeiras ou interiores de água doce, salgada e até alcalina. De uma forma geral, alimentam-se em águas pouco profundas, mas podem também fazê-lo nos sedimentos, ou em água com mais de um metro de profundidade.

ALIMENTAÇÃO

A alimentação dos flamingos atingiu o expoente máximo da perfeição adaptativa de um método também utilizado por outras espécies de aves: a filtragem da água. As mandíbulas dos flamingos estão dotadas de umas pequenas estruturas rígidas, lamellae, e a sua língua é espessa e carnuda, com protuberâncias. Para se alimentarem, os flamingos imergem parte do bico, ou mesmo a totalidade da cabeça. Com o bico semicerrado, a língua descreve movimentos extremamente rápidos para a frente e para trás, a uma velocidade de cerca de 17 movimentos por segundo, actuando como um êmbolo que bombeia água através das lamellae, que retêm as partículas em suspensão na água. Posteriormente, as protuberâncias da língua raspam o alimento e este é ingerido. Neste processo, os flamingos ingerem insectos, crustáceos, moluscos, anelídeos, protozoários, diatomáceas, algas, sementes, plantas e até pequenos peixes.


REPRODUÇÃO

Os flamingos são uma espécie monogâmica que acasala com o mesmo indivíduo para toda vida. O inicio da época de nidificação depende muito das condições climatéricas e da satisfação de determinados requisitos, o que em geral sucede em finais de Abril. Os ninhos, em regra feitos de lama, são construídos em colónias que podem reunir muitos milhares de indivíduos, estando em média a 35 cm uns dos outros. Ambos os sexos constroem o ninho. As posturas são quase sempre de 1 ovo e apenas excepcionalmente de 2 ovos. A incubação é feita pelos dois progenitores e a eclosão dá-se entre 28 a 31 dias depois da postura. Após a eclosão, as crias abandonam o ninho, mas mantém-se nas imediações durante 10 dias, altura a partir da qual são reunidas em "creches" de muitos juvenis da mesma idade. Durante este período, ambos os progenitores conseguem distingir a sua cria e apenas alimentam o seu descendente. Apesar de aprenderem a voar perto do septuagésimo quinto dia de vida, é natural que ainda fiquem na "creche" até por volta do cem dias de vida. Findo este período, as crias tornam-se rapidamente independentes, mas só se reproduzirão 2, 3 ou mesmo 4 anos mais tarde.


MOVIMENTOS

A população europeia de flamingos não apresenta nenhum padrão de migração claro. Enquanto que alguns indivíduos de uma mesma colónia se mantêm no local onde nasceram, outros descrevem viagens de vários milhares de quilómetros. Um indivíduo anilhado na Andaluzia foi controlado em Chipre, e outros anilhados na Camargue foram avistados na Mauritânia e no Senegal.

Em Portugal são frequentemente observados flamingos com anilhas espanholas.

CURIOSIDADES

Para um grande número de portugueses os flamingos são aves exóticas que pertencem apenas à fauna de países longínquos. No entanto, não só são razoavelmente abundantes no nosso país, como às vezes é possível observa-los mesmo a partir de perímetros urbanos, como do de Lisboa.


ONDE OBSERVAR

As maiores concentrações de flamingos no nosso país ocorrem no Estuário do Tejo, onde é possível observá-los em vários locais, desde Sacavém até ao Montijo. Dentro desta área vastíssima, a Reserva Natural do Estuário do Tejo, e as salinas do Samouco são os melhores locais para se encontrarem flamingos. Neste último local são frequentemente visíveis a partir de ponte Vasco da Gama.
Também na margem Norte do Sado, na zona da Gâmbia, Mourisca e Mitrena se podem fazer boas observações.

No Algarve, o sapal de Castro Marim é talvez o melhor local para se encontrarem estas aves e a melhor estratégia talvez seja perscrutar o sapal e as salinas, com o auxilio de binóculos, e a partir de um ponto alto, em busca de aves cor de rosa ou brancas com um metro e meio de altura.

 

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