Radioactividade – um processo natural reproduzido pelo Homem

Cláudia Fulgêncio
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O radão e o torão são gases radioactivos, pertencentes à família do urânio e do tório, respectivamente. Em termos de exposição para a população, o isótopo radão-222 tem particular importância, uma vez que apresenta uma grande disseminação. Este gás é produzido pelo decaimento do rádio-226, que ocorre naturalmente em solos e rochas, libertando-se para a atmosfera. Embora apresentando concentrações geralmente baixas no exterior, ao infiltrar-se nas casas através de fendas nas fundações e paredes, pode atingir, no interior, concentrações de várias ordens de grandeza superiores às que se observam no exterior.

O radão decai para produtos radioactivos sólidos (polónio, chumbo e bismuto) que, ao serem inalados, podem-se depositar nos alvéolos pulmonares, constituindo, assim, um factor de risco para a incidência de cancro no pulmão.

As doses de radiação para a população, resultantes da inalação do radão, apresentam para Portugal valores extremos que se situam entre 0.5 e 20 mSv/ano, sendo o valor médio de 1.2 mSv/ano.

Radioactividade induzida

É possível induzir radioactividade em certos materiais, além da emitida naturalmente, obtendo deste modo emissão de radiação e, portanto, de energia. É esta a base de muitas aplicações que surgem da física nuclear.

Dois dos processos mais importantes de decaimentos, responsáveis por um grande ganho energético, são a cisão e a fusão nuclear.

Os processos de cisão são a base do funcionamento de reactores nucleares. Muitos produtos resultantes da cisão, como o estrôncio-90, são isótopos radioactivos perigosos. O plutónio-239, usado como combustível nuclear, e produzido em reactores reprodutores, é uma das substâncias mais tóxicas conhecidas. Por outro lado, os acidentes envolvendo energia nuclear apresentam efeitos muitos perigos. O acidente no reactor de Three Mile Island, na Pennsylvania em 1979, chamou pela primeira vez a atenção do público para os perigos das centrais nucleares. Alguns anos mais tarde, o desastre na central nuclear de Chernobyl, em Abril de 1986, passou a constituir uma lembrança trágica de como pode ser catastrófica a ocorrência de um desastre nuclear.


A fusão nuclear, que ocorre constantemente no Sol, mantendo a sua temperatura a cerca de 15 milhões de ºC, é um processo mais “ limpo”. No entanto, e devido às altas temperaturas a que decorre, a utilização da fusão nuclear como base de uma central energética não é ainda utilizada.

Efeitos da radioactividade nos organismos

Os efeitos da radioactividade estão dependentes, essencialmente, da natureza da radiação do radionuclido, do seu tempo de vida, da quantidade assimilada e dos órgãos onde é acumulada. Nos organismos esses efeitos manifestam-se ao nível somático e genético. Ao nível somático, a sua expressão máxima é a letalidade, que aumenta à medida que se progride na escala sistemática, sendo também elevada nos primeiros estados de desenvolvimento embrionário. A este nível são bastante frequentes doenças, como o cancro e a leucemia. A nível genético, a radioactividade é responsável por um aumento de mutações cromossómicas, levando por vezes à inviabilidade dos gâmetas e ao aparecimento de mutações genéticas nas gerações vindouras.

O Radão – um exemplo de radioactividade natural

O radão é um gás nobre, monoatómico, radioactivo, inerte, solúvel na água e sete vezes mais denso que o ar. O seu isótopo mais abundante, e também o mais perigoso, é o Rn-222, gerado na cadeia de decaimento do U-238 contido nos materiais geológicos.

O principal risco de exposição a este gás ocorre, fundamentalmente, a partir do solo, embora também possa ocorrer através da água e do fumo do tabaco. A sua tendência é para concentrar-se em locais confinados, como as habitações pouco ventiladas, principalmente nas caves.

Um estudo efectuado por investigadores do Departamento de Segurança e Protecção Radiológica do Ministério do Ambiente, tomando como amostra 4200 habitações do território nacional, encontrou, em 9% dos casos, concentrações de radão superiores a 200 Bq/m3 e em 3% dos casos concentrações superiores a 400 Bq/m3. Os distritos da Guarda e de Viseu, são os que, de todo o mapa nacional, apresentam os valores médios mais elevados deste gás radioactivo, registando valores da ordem dos 120 Bq/m3. Este fenómeno pode ser explicado pelo facto do subsolo ser maioritariamente constituído por granitos e estas rochas serem, em geral, das que possuem na sua constituição maiores quantidades de urânio, elemento a partir do qual se gera o radão.

Alguns dos constituintes usados na construção civil são também veículos de exalação deste gás, pelo que se deve proceder a uma selecção rigorosa dos materiais de construção, procurando empregar materiais que sirvam de barreira à difusão do radão, em detrimento das areias provenientes das indústrias de granito.

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