Portugal e a energia eólica

Helena Simões
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Enquanto os efeitos ambientalmente danosos resultantes da utilização dos combustíveis fósseis continuam, uma fonte de energia renovável – a energia eólica - permanece praticamente inexplorada. Conheça a situação no nosso país.

 

 

Desde meados do século XII que a energia eólica é aproveitada em Portugal, através da utilização de moinhos de vento. Estes permitiam (e permitem) a moagem de cereais e a bombagem de água para a irrigação dos campos ou para abastecimento das populações, para além de outros usos menos frequentes, como a serração de madeiras ou a extracção de óleos a partir de oleaginosas.

Só na última década foram iniciados estudos e projectos piloto para a utilização desta forma de energia como fonte de electricidade, através de medições do potencial eólico e instalação de aerogeradores experimentais em várias serras portuguesas. A implementação com fins comerciais de parques eólicos (locais onde se instalam dois ou mais aerogeradores, com ou sem ligação à rede eléctrica nacional), iniciou-se em meados de 1996. No entanto, é grande a falta de informação disponível, assim como a divulgação, por parte das entidades institucionais, dos projectos já implementados e em curso. Após uma pesquisa demorada, recorrendo principalmente à comunicação social e a entidades privadas, apuraram-se os dados que se apresentam em seguida, relativos aos parques eólicos ligados à rede eléctrica nacional, já implantados em Portugal Continental:


Grupo EDP (ENERNOVA):

- Parque Eólico da Fonte da Mesa – Lamego, instalado em 1996, constituído por 20 torres de 42 m e uma potência de 10 MW;

 

 

 

 

 

 

 

- Parque Eólico de Pena Suar – Marão, instalado em 1997, com a mesma dimensão e potência que o anterior;

 

 

 

 

 

- Parque Eólico do Cabeço da Rainha – Serra de Alvéolos, instalado em 2000, constituído por 17 torres de 60 m e com uma potência estimada de 17 MW;

 

 

 

 

 

- Parque Eólico da Serra do Larouco – instalado em 2000, constituído por 9 torres de 60 m e com uma potência estimada de 9 MW.

 

 

 

 

 

ENERSIS – ENERFLORA:

- Parque Eólico de Vila Lobos – Lamego, instalado em 1997, constituído por 20 torres de 42 m e uma potência de 10 MW;

 

 

 

 

 

 

 

 

- Parque Eólico da Igreja Nova – Serra do Funchal (Mafra), instalado em 1999, constituído por 2 torres de 60 m e uma potência de 3 MW;

 

 

 

 

 

 

 

TOMEN ELÉCTRICA:

- Parque Eólico da Fonte dos Monteiros – Vila do Bispo (Algarve), instalado em 1997, constituído por 20 torres de 42 m e uma potência de 11 MW.

 

 

 

 

 

 

PICOS VERDES:

- Parque Eólico de Vale de Cavalos – Vila do Bispo (Algarve), instalado em 1997, constituído por 4 torres de 42 m e uma potência de 2 MW

 

 

 

As entidades promotoras privadas queixam-se da falta de apoios financeiros relevantes e do reduzido estímulo da actual política energética, para o aproveitamento integral das potencialidades da energia eólica no país. Assim, um dos maiores constrangimentos reside na política tarifária praticada pelo grupo EDP (tarifa média de 10$70 por kWh em 1997 e 9$80 em 2000, equivalendo a uma descida média anual de 5.7%), não tendo ainda sido implementado um tarifário verde para as Energias Renováveis, como acontece na Suécia ou na Alemanha. De acordo com a ENERSIS, um parque eólico só se torna viável com ventos médios de 25 Km/h, enquanto na Alemanha basta atingirem os 14 Km/h.

Outro dos constrangimentos legais reside na obrigação da EDP aceitar a energia produzida pelos produtores privados apenas se esta se situar abaixo dos 10 MW. Acresce ainda o facto dos custos de ligação à rede eléctrica nacional serem da responsabilidade dos promotores.

O Grupo EDP considera este negócio interessante, tanto do ponto de vista económico como ambiental, embora não seja dos mais atractivos para o sector privado, devido à sua Taxa Interna de Rentabilidade (TIR), situada em cerca de 8%, com as actuais tarifas, e um período de retorno de 9 anos.

A implementação de cada um dos parques eólicos de Lamego, do Marão e de Fonte dos Monteiros, em Vila do Bispo, rondou os 2.3 milhões de contos, não tendo obtido qualquer financiamento a fundo perdido. O apoio a estas iniciativas é disponibilizado ao abrigo da Medida 2 do Programa Energia, sendo concedido um empréstimo a taxa zero, entre 30 e 40 % do valor do investimento, e os reembolsos efectuados ao longo de uma década. A título de exemplo, podemos referir o Parque Eólico da Igreja Nova, inaugurado em Junho de 2000, que recebeu, ao abrigo deste Programa (FEDER), uma comparticipação comunitária de cerca de 328 mil contos, dos cerca de 670 mil contos de custo total da obra. Saliente-se ainda que, embora três quartos do custo total vão directamente para os aerogeradores (de fabrico predominantemente Alemão (ENERCON) ou Dinamarquês (VESTAS)), as torres metálicas são produzidas em Portugal pela TEGOPI e as restantes obras (fundações, infra-estruturas, montagem, etc.), são maioritariamente contratadas a nível local, gerando postos de trabalho e riqueza em zonas por vezes muito carenciadas.


O Grupo EDP (ENERNOVA) planeia expandir o seu investimento na energia eólica com a instalação de parques nas Serras da Lousã, Barroso, Pedrela e Montemuro. O projecto de instalação, durante o ano de 2000, de um parque na Serra do Açor (20 MW), sofreu um revés devido ao parecer desfavorável da Direcção Regional do Ambiente do Centro, estando neste momento a ser reconfigurado.

De igual modo, em Espanha, onde a implementação destas estruturas registou um aumento de 77% em 1999 (450 MW em 1997, 2046 MW em 2000), a contestação por organizações ambientalistas e associações locais tem vindo a aumentar.

Torna-se premente o desenvolvimento de técnicas que possibilitem a avaliação de todos os factores condicionantes à expansão destes projectos, em detrimento das abordagens parciais que se têm realizado, assim como a divulgação pública destes estudos, não se confinando aos seminários realizados para os especialistas da matéria. Uma opinião pública esclarecida contribuirá decisivamente para uma maior aceitação destas novas tecnologias.

O papel dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e da Investigação no aproveitamento da energia eólica

Os SIG têm um papel fundamental no dimensionamento e implementação dos projectos de parques eólicos. A determinação destes locais compreende o levantamento de numerosos parâmetros técnicos, sociais e ambientais. Assim, é necessário avaliar o potencial eólico da zona (dados meteorológicos, cartográficos: relevo e rugosidade), identificar as constrições técnicas (distância à rede, acessos, servidões públicas, etc.), ambientais (paisagísticas, zonas protegidas, de interesse florístico, faunístico, etc.), arqueológicas, hidrológicas, geológicas, de impacte sonoro e sócio-económicas (actividades económicas, tipo de propriedade, etc.).

Curvas de iso-potencial eólico

 

 

 

 

 

 

 

Os SIG permitem responder a questões globais: Onde se localizam as zonas mais ventosas (por exemplo, com um potencial eólico superior a 400W/m2), a menos de 1 Km de uma estrada, a menos de 1 Km da rede, fora de zonas protegidas e a mais de 350 m de habitações?; ou locais: Quais são os impactos do projecto sobre a paisagem ou o ruído?


Carta dos ventos

 

 

 

 

 

Num mesmo ambiente podem ser gerados dados cartográficos (relevo, estradas, linhas eléctricas, etc.), dados técnicos (curvas de iso-potencial eólico, curvas isofónicas) e simulações gráficas de alto nível (animação e modelação 3D do impacto visual).


Modelo 3D do impacto visual de um parque eólico

Em França, a empresa privada “Espace Eolien Développement”, especializada em energia eólica, desenvolveu um SIG (ANEMONE – Analyse Environnementale et Modélisation Numérique Eolienne) que tem utilizado nos projectos realizados, nomeadamente na Bretanha e Córsega.

Em Portugal, estamos ainda a dar os primeiros passos na Investigação Aplicada nesta matéria. Eis alguns exemplos de projectos de investigação:


- O Centro de Conservação de Energia (CCE) realizou em Ourique um projecto piloto para abastecimento energético autónomo da aldeia de Santana da Serra, com recurso a um sistema híbrido eólico/fotovoltaico, ao abrigo do Programa Altener;

- A UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) tem efectuado estudos do potencial eólico das Serras do Marão e do Alvão, planeando continuar nas Serras de Leomil, Reboredo e Armamar, assim como o desenvolvimento da Base de Dados da Energia para a Região de Trás-os-Montes e Alto Douro, que engloba legislação Nacional e Europeia, bem como condicionantes técnicas e ambientais;

- O INEGI (Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial) – FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), através do Centro de Energia Térmica, tem realizado estudos de viabilidade de implantação de parques de aerogeradores;

- O INESC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto), através da Unidade de Sistemas de Energia, tem participado em numerosos projectos, entre os quais se destacam o SOLARGIS (Integração das Energias Renováveis para a Produção Descentralizada de Electricidade em Regiões da Comunidade Europeia e em Países em Vias de Desenvolvimento – 1994/1996), CARE (Sistema Avançado de Apoio ao Controlo de Redes Isoladas com Grande Penetração de Energias Renováveis – 1997/1999), MADEIRA (Avaliação do Impacto da Utilização em Larga Escala da Energia Eólica na Rede Eléctrica da Madeira – 1997/1998), MEAPA (Metodologias Integradas para o Mapeamento de Energias Alternativas no Estado do Pará - Brasil – 1998/1999) e ELECTROLISA (Impactos Ambientais das Fontes de Energia Renováveis (FER) – 1998/1999);

- O IPB (Instituto Politécnico de Bragança) prestou serviços de consultadoria nos estudos preliminares dos parques eólicos de Vila Lobos, Pena Suar e Fonte da Mesa e tem participado em vários projectos de Investigação em parceria com o INEGI.


Fotografias de José Romão

A nível de ensino, o ISACE (Instituto Superior de Administração, Comunicação e Empresa), situado na Guarda, ministra actualmente um curso de Engenharia de Energias Renováveis.


Relativamente à divulgação e discussão do aproveitamento da energia eólica em conferências e seminários direccionados para os meios académicos e empresariais, já se realizaram alguns eventos, nomeadamente o seminário “Eficiência Energética, Gás Natural e Energias Renováveis”, em 18/10/99, promovido pela APEMETA (Associação Portuguesa de Empresas de Tecnologias Ambientais) e as Jornadas Transfronteiriças da ECOTOPIA (Bioex S.L.), na Casa da Cultura de Hoyos – Cáceres, já com três edições. As Primeiras Jornadas com o título “Alterações Climáticas e Energias Renováveis” decorreram de 8 a 10 de Maio de 1998; as Segundas sobre “O Desenvolvimento Sustentado na Europa do séc. XXI”, entre 22 e 24 de Outubro de 1999 e as Terceiras Jornadas com o tema “A Energia Eólica e o Desenvolvimento Sustentado”, entre os dias 10 e 12 de Novembro de 2000. Nestas últimas foram apresentadas comunicações de representantes da Direcção Geral de Energia (DGE), ENERNOVA e HIDRORUMO (ambas do Grupo EDP).

Quanto a futuros encontros, realizar-se-á, a 29 de Junho de 2001, novo seminário da APEMETA, subordinado ao tema “Eficiência Energética e Energias Renováveis” e de 2 a 6 de Julho de 2001 a “EWEC 2001 - 2001 European Wind Energy Conference and Exhibition”, no Bella Centre de Copenhaga, na Dinamarca, promovida pela EWEA (European Wind Energy Association).

Glossário

1 unidade de electricidade = 1 kilowatt hora (kWh)

1000 kW = 1 Megawatt (MW)

Referências

Generalistas:
www.spes.pt
riera.ceeeta.pt/exemplos_eolica.htm
www.ambinet.pt/enerenova/globaler.htm
www.cdier.com
www.windpower.dk
www.ewea.org
www.geocities.com/CapeCanaveral/Launchpad/7075
www.europa.eu.int/en/comm/dg17/altener.htm
windpower-monthly.com
www.bme.es/cidn/opinion6.html

Software:
www.emd.dk
www.wasp.dk

Investigação:
power.inescn.pt
www.fe.up.pt/~inegi/ceterm
www.utad.pt/Cursos/Engenharia_Electrotecnica/projectos/projectos.html
www.ipb.pt/
www.risoe.dk

Equipamento:
www.vestas.com
www.enercom.de
www.afm.dtu.dk/wind/smep/
www.tegopi.pt
www.ffsolar.com 

Consultoria:
www.gtz.de/wind/portug/index.html
www.espace-eolien.fr

Ensino:
www.freipedro.pt/isace

www.abcdaenergia.com/enervivas/cap10.htm
nautilus.fis.uc.pt/~softc/programas/soft07.htm
enerp4.ist.utl.pt/ruicastro/pedagogia.htm
www.a-pagina-da-educacao.pt/arquivo/artigos/u0826.html

Seminários:
www.bioex.es/jornadas
target= new window>www.cidadevirtual.pt/apemeta/Conc_Sem_ENERGIA.htm

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