Recifes de Coral, sua História e Evolução

Susana Ribeiro
Imprimir
Texto A A A

Os recifes de coral, verdadeiros oásis de vida marinha, são dos mais produtivos ecossistemas do planeta. Fruto de longas histórias evolutivas, estes sistemas são extremamente frágeis e susceptíveis à perturbação natural e humana.

Há 500 milhões de anos, minúsculos animais sem esqueleto e flutuante, associaram-se a algas microscópicas e fixaram-se às rochas, formando colónias. Estes animais coloniais não são mais do que os corais e a concentração destas colónias dá origem a áreas naturais inigualáveis, pela sua cor, beleza, forma e grande variedade de vida – os recifes de coral.


Figura 1. Cuba. Os contrastes das cores revelam as diferentes profundidades.

 Os recifes são normalmente usados para definir os limites do ambiente marinho tropical. Embora se encontrem corais em todos os oceanos, desde as águas polares às tropicais, somente nos trópicos se desenvolvem os recifes. Esta diferenciação deve-se à existência de dois grupos de corais: os hermatípicos (“herma” significa barreira em grego) e os ahermatípicos. A principal diferença entre estes dois tipos de corais é que a maioria dos hermatípicos têm nos seus tecidos dinoflagelados (algas Zooxantelas e outras), com os quais estabelecem uma relação de simbiose. Nesta relação simbiótica, as algas fornecem aos corais oxigénio e carbono (resultantes da fotossíntese), recebendo em troca nutrientes, como nitrogénio e o fósforo, dióxido de carbono para a fotossíntese e um ambiente extremamente estável e seguro. Os corais hermatípicos formam recifes e só se encontram nas regiões tropicais, ao contrário dos ahermatípicos, que não formam recifes e se distribuem pelas zonas polares e temperadas.


Figura 2. Algas simbióticas nos tecidos de um bivalve

Os recifes são essencialmente depósitos maciços de carbonato da cálcio, que é produzido, na sua maioria, pelos corais e em menor quantidade por algas calcárias e outros organismos.

As comunidades de recifes de coral constituem um dos mais importantes ecossistemas no nosso planeta e têm como característica principal a sua produtividade extremamente elevada. Esta alta produção dos recifes de coral suporta a existência de densas comunidades de zoobentos (animais que vivem junto ao fundo) e de peixes. Os recifes também exportam matéria orgânica e nitrogénio para as zonas circundantes, aumentando a produtividade dessas águas. Constituem ainda um importante local de reprodução e de crescimento juvenil para muitas espécies pelágicas de peixes (que vivem na coluna de água).


Figura 3. Uma anémona do mar acolhe uma colónia de peixes-palhaço (Amphiprion sp.)

Da área total de recifes existente ( m²), 15% estão situados no oceano Atlântico, 53% no sudoeste Asiático, 19% no Pacífico e 9% no Mar Vermelho. No Atlântico, onde existem 10 atóis, do total de 300, e 2 das 30 barreiras de recife, a grande maioria dos recifes localiza-se no Mar das Caraíbas. Entre os maiores sistemas recifais podem salientar-se os recifes barreira de Belize, Madagáscar, Fidji, Nova Caledónia e a grande barreira de recife da Austrália.


História Geológica

A vida coralina nem sempre foi exclusiva dos países tropicais. De facto, já se encontraram corais fósseis (Dolomites), assim como traços de barreiras de coral, que remontam a 500 milhões de anos, em França e Inglaterra.

Entre o início do Câmbrico e meio do Silúrico e Devónico (570-400 milhões de anos), três períodos caracterizaram-se por uma grande expansão mundial dos corais e das grandes plataformas carbonatadas. O aquecimento da água a uma temperatura de 20ºC, desde os 40-45º de latitude Norte e Sul e a elevação do nível do mar tiveram consequências directas no desenvolvimento dos corais, pois o crescimento essencialmente vertical foi indispensável para compensar a subida da água e o aquecimento estimulou o crescimento horizontal, que favoreceu a expansão das barreiras de coral.

O desenvolvimento dos corais atingiu o seu máximo no Paleozóico. No entanto, há cerca de 360 milhões de anos, estes recifes foram reduzidos até praticamente à extinção. Os principais factores responsáveis foram a colisão entre o continente Gonduana e a Euramérica, há cerca de 300-270 milhões de anos, que modificou radicalmente a direcção das correntes marinhas e a temperatura do planeta.

No Mesozóico (260 milhões de anos) dá-se uma nova “produção” de corais. No fim do Terciário, o desmantelamento do mar de Tétis, provocado pela deriva dos continentes, levou ao aparecimento dos oceanos actuais, com importantes consequências na distribuição e evolução dos corais hermatípicos. As principais províncias coralinas, nomeadamente as Caraíbas e a região Indo-Pacífica, remontam ao Pliocénico (5 milhões de anos). Os recifes do oceano Atlântico são geologicamente muito recentes, datando, na sua maioria, da última era glaciar (10-15 mil anos).

 

Descoberta e Exploração

As viagens dos Portugueses, no período dos Descobrimentos, proporcionaram a descoberta dos recifes de coral no oceano Índico. No Atlântico, a viagem de Colombo, em 1492, permitiu a descoberta das Bahamas e de Cuba, onde se encontram recifes de coral típicos. Em anos seguintes, ainda antes do fim do século XV, novas descobertas vieram enriquecer os conhecimentos dos europeus relativamente às Caraíbas. Também os Árabes, durante as suas viagens entre a Arábia, África e Índia se depararam com algumas destas estruturas.


O Homem viveu desde muito cedo nas ilhas de coral do Pacífico. Pensa-se que os Polinésios tenham chegado a essas mesmas ilhas no princípio da era cristã. Desde o início do século XIX, este oceano, em particular as ilhas “Tuamotu” e as ilhas “Society” permitiram o estudo da génese dos diferentes tipos de recifes, por parte de Charles Darwin.

Mas os primeiros estudos dos recifes datam dos finais do século XVIII, tendo como preocupação principal a descrição cartográfica, a geomorfologia e a origem, assim como a composição taxonómica da flora e fauna. Em 1923 a Royal Society of London organizou uma expedição à grande barreira de coral da Austrália, obtendo dados sobre o plâncton e bentos dos recifes, assim como sobre a alimentação e metabolismo dos corais. O grande interesse pelos corais traduziu-se na criação, em 1982, da revista “Coral Reefs”.

A tendência drástica de exploração e consequente destabilização dos sistemas recifais nas últimas duas décadas, torna necessária a análise dos factores responsáveis e que hoje põem em perigo a existência dos recifes de coral.

 

Documentos Recomendados

ICTIOFAUNA DO COMPLEXO RECIFAL DO PONTAL DE MARACAÍPE-PE

ANÁLISE PRELIMINAR DO USO DO MERGULHO RECREATIVO COMO FERRAMENTA AUXILIAR DE ESTUDOS CIENTÍFICOS E MANEJO

Comentários

Newsletter