Entre o mar e a pedra - o Percebe e os Percebeiros

Dora Jesus
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Fazem-se ao carreiro que os leva para a falésia escarpada, uma parte do carreiro faz-se a caminhar num equilíbrio precário sobre uma rocha íngreme e escorregadia. O carreiro acaba, a partir deste ponto o “equilíbrio” desaparece, o carreiro é agora uma corda presa numa anilha cravada na rocha, os pés apoiam na rocha à medida que se desce (quais escaladores profissionais), e nas mãos sente-se o suor misturado com a salsugem do mar.

Lá em baixo, caminham com rapidez e desembaraço, de cabeça baixa espreitando o mar, procuram um sítio onde colocar o que para já não faz falta.

Olha-se outra vez o mar, há que espiá-lo, ler o retortelo das ondas e a escrita da espuma nas rochas, medir mentalmente a cadência das ondas.

Depois inicia-se o trabalho, nadam, saltam de uma pedra para a outra atrás do percebe, ao capricho das ondas e rodeados de mexilhões e rochas cortantes, parecem brincar como pardelas em rochas de espuma, com o mar sempre de olho neles e eles sempre de olho no mar, contando os segundos do ritmo das ondas. E quando traiçoeiro o mar rebenta, que não os apanhe nem de flanco e nunca de costas.

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