Entre o mar e a pedra - o Percebe e os Percebeiros

Dora Jesus
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Cedo na manhã, quase sempre antes do sol nascer, muitas vezes debaixo de nevoeiro, estes homens vão ver o mar. Àquela hora da manhã, o ar ainda gela e o rebentar das ondas contra as rochas marca os minutos do fim da madrugada, os rostos destes homens confundem-se no nevoeiro e na condensação da sua própria respiração, não falam... ouvem e sentem o mar que no fundo da falésia os espera. Sem vertigens, eles esperam pelo momento da descida.

De véspera têm uma ideia de como o mar poderá estar na manhã seguinte, mas nem sempre a previsão se revela acertada, o mar é temperamental, ele é quem sabe da sua disposição, e pode levar à alteração do local decidido no dia anterior.

A decisão de trabalharem naquele local é tomada quase sem palavras, rapidamente voltam ao carro para trocar a sua roupa pelos fatos de mergulho, talvez ainda húmidos do dia anterior. Calçam botas de cabedal ou ténis, colocam à cintura um saco de rede que dentro leva mais um saco de rede e uma saca de serapilheira, penduram também umas barbatanas, colocam uma corda a tiracolo e na mão levam a arrilhada, instrumento de trabalho e de amparo nos caminhos mais difíceis.

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