Fauna das Profundidades Marinhas

Maria João Correia
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Figura 3 – Fauna característica do andar abissal: (1) uma ascídia carnívora Megalodicopia hians; (2) o peixe Aristostomias tittmani [21,5 cm]; (3) o peixe Linophryne coronata fêmea [219 mm], o macho é parasita da fêmea [26 mm].

As comunidades abissais estendem-se até cerca de 6000-7000 m, profundidade a que ocorrem sensivelmente as fossas abissais, e cujo domínio faunístico forma o andar hadal. Nas fossas abissais nota-se um empobrecimento da fauna relativamente à planície abissal. Muitos dos grupos zoológicos bem representados no andar abissal, como os crustáceos decápodes, os pantópodes, os cefalópodes, as estrelas-do-mar e os peixes, desaparecem no andar hadal. Nas comunidades hadais predominam as holotúrias, os pogonóforos, os equiúres e ainda algumas espécies de poliquetas. As bactérias barófilas, que apenas podem viver a pressões superiores a 600-700 atmosferas, podem ser consideradas como características do andar hadal.


A vida no meio profundo originou várias respostas, a nível adaptativo, por parte dos organismos. Aqueles que vivem fixos nos substratos móveis apresentam geralmente pedúnculos bastante longos, enquanto alguns crustáceos e outros animais possuem um alongamento dos apêndices, assegurando, simultaneamente, uma melhor sustentação e um aumento das possibilidades de percepção sensorial.


Diversos animais das profundidades não possuem olhos, ou estes são vestigiais. Em contraste com aqueles, outros há que apresentam olhos bastante desenvolvidos. Os fenómenos de bioluminescência, outra característica de diversos grupos animais do domínio profundo, como protozoários, cnidários, crustáceos, cefalópodes e peixes, podem ser produzidos por órgãos luminosos (como no caso dos peixes) ou por fotobactérias que vivem no produto da secreção celular.

 

 

Figura 4 – Muitos peixes apresentam órgãos luminosos (fotóforos) dispostos ao longo do corpo (setas a negro). (1) Myctophum nitidulum [83 mm]; (2) Argyroppelecus hemigymnus [39 mm].

Relativamente à reprodução e ao desenvolvimento das espécies profundas, dada a escassez de alimento, a protecção dos jovens ou das posturas, a viviparia e um curto estado larvar, podem ser factores determinantes na sobrevivência das espécies.

Outra adaptação à vida a grande profundidade é o dimorfismo sexual, levado ao máximo pelos peixes ceratióides, cujos machos, de pequenas dimensões e anatomicamente atrofiados, vivem presos à fêmea e são parasitas desta.

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