Recifes de Coral, sua Distribuição e Origem

Susana Ribeiro
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A comparação entre as diferentes espécies de corais presentes em várias regiões do planeta indicia a existência de um gradiente de distribuição, principalmente dependente de factores ambientais, como a temperatura e salinidade.

O maior número de espécies e géneros de coral ocorre numa área do Indo-Pacífico, que inclui as Filipinas, o arquipélago da Indonésia, a Nova Guiné e a Austrália do Norte. Nesta área foram identificados 50 géneros e algumas centenas de espécies. Considerando toda a área do Indo-Pacífico temos 80 géneros e 700 espécies. O número de géneros e espécies diminui à medida que nos afastamos desta área, tanto para Norte ou Sul como para Este ou Oeste. Em contraste, no oceano Atlântico existem apenas 36 géneros e 62 espécies.


A distribuição dos recifes de coral não é uniforme, concentrando-se em zonas onde a temperatura média anual da água é superior a 20ºC no Inverno. No entanto, algumas espécies podem desenvolver-se durante certos períodos com temperaturas inferiores a 20ºC, mas nunca se desenvolvem quando a temperatura mínima média anual é inferior a 18ºC (Wells, 1957 in Nybakken, 1988). O desenvolvimento óptimo dos recifes ocorre em águas onde a média anual da temperatura se situa entre 23-25ºC, podendo alguns tolerar temperaturas entre os 36-40ºC.

É de salientar que os recifes são reduzidos ou estão ausentes nos limites da área tropical, como na costa Oeste da América do Sul e da África, pelo facto de serem zonas de upwelling (factor que se sente em zonas de interface entre o meio marinho e terrestre, devido à elevação de massas de água fria de zonas mais profundas) e à existência de correntes frias, como a do Perú na América do Sul e a corrente de Benguela na costa Africana.

A geografia das formações coralinas mostra que elas se limitam, salvo raras excepções, à região inter-tropical e a uma área de 600 000 Km, uma vez que é a este nível que as condições naturais são mais favoráveis aos corais construtores.

Figura 1. Os factores físicos limitam a distribuição dos recifes de coral. A comparação entre a distribuição dos recifes (A) e a dinâmica das correntes quentes (B) mostra que os corais se desenvolvem entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio, mais exactamente entre as termoclinas de 20ºC.

Os recifes também se encontram limitados pela profundidade, não se desenvolvendo em profundidades superiores a 50-70m, sendo que a maioria se encontra a menos de 25m. Esta restrição está relacionada com a necessidade de luz no desenvolvimento dos corais. A luz é essencial para a realização da fotossíntese pelas Zooxantelas (organismos simbiontes que vivem nos tecidos coralinos), de tal forma que, se esse factor se tornar limitante, a fotossíntese é reduzida e com ela a capacidade dos corais segregarem carbonato de cálcio.


Figura 2. Algas simbióticas que vivem nos tecidos de alguns animais dos recifes.

Outro factor que restringe o desenvolvimento dos recifes é a salinidade. Os corais hermatípicos são intolerantes a salinidades inferiores a 25% e superiores a 32%. Na costa atlântica da América do Sul, os recifes estão ausentes, devido à descarga de água doce dos rios Amazona e Orinoco. No outro extremo temos os corais que se desenvolvem até 42% de salinidade, como acontece no Golfo Pérsico.

A sedimentação, que está relacionada com o escoamento de água doce, também é considerada um factor limitante no desenvolvimento dos corais. A maioria dos corais não suporta uma deposição elevada de sedimentos, não só porque estes se depositam nas estruturas alimentares, como também reduzem a luminosidade da água, dificultando a fotossíntese. Em geral, o desenvolvimento dos recifes de coral é maior em áreas que estejam sujeitas a forte hidrodinamismo (acção das ondas), uma vez que este factor fornece uma fonte constante de oxigénio e de alimento, evitando ainda a sedimentação.

A emersão dos corais também é importante. A secreção de muco pode evitar a desidratação, mas apenas quando a emersão ocorre durante um curto período de tempo, já que os corais não sobrevivem à emersão por mais de duas horas.

Os recifes de coral apresentam complexas associações com habitantes diversificados, que muitas vezes são de simbiose, estabelecidas com organismos tão distintos como algas, crustáceos, gastrópodes e peixes.


Figura 3. Um aspecto da vivência entre peixes e corais.

No recife temos áreas de substrato rochoso, onde se fixam muitos organismos sésseis (que vivem fixos ao substrato), e áreas de areia, que requerem diferentes tipos de adaptação, da mesma forma que existem zonas de forte hidrodinamismo e outras zonas calmas, onde as correntes são mínimas. Esta grande diversidade de habitats é uma das razões da grande diversidade de vida existente nos recifes.


Tipos de Recifes


Os recifes aparecem em diferentes tamanhos e formas, resultando das condições hidrológicas e geológicas que ocorrem em diferentes áreas dos trópicos. Os tipos de recifes mais comuns são agrupados em três categorias: atol, recife barreira e recife de franja.

Os atóis são facilmente distinguidos porque têm a forma de uma anel de recife que emerge da água profunda, longe de terra firme, com uma lagoa no seu interior. Existem 425 atóis documentados no Mundo (Stoddart, 1965 in Guilcher 1988) e o arquipélago com maior número de atóis é o Tuamotu, sendo o maior o atol de Kwajalein, nas ilhas Marshall.

A distinção entre os recifes barreira e de franja é mais difícil. Ambos são adjacentes a massas de terra, mas o recife de barreira situa-se a uma maior distância da terra da qual está separado por um canal de água profunda. A maior barreira de coral tem aproximadamente 2000 Km e situa-se ao longo da costa Nordeste da Austrália. A segunda maior barreira de coral situa-se ao largo do México e Belize.


Origem

Durante muitos anos o Homem especulou sobre a origem dos atóis. Este interesse aumentou quando se descobriu que os recifes de coral não podiam viver a mais de 50-70m de profundidade.

A explicação da origem dos atóis foi proposta por Charles Darwin, em 1830, depois da sua viagem de cinco anos no Beagle, durante a qual teve oportunidade de estudar vários recifes. Segundo a teoria de subsidência de Darwin, o atol tem a sua origem quando os recifes de franja começam a crescer ao longo da costa de ilhas vulcânicas recentes. Ao longo do tempo, estas ilhas começam a subsidir. Se a subsidência não ocorrer muito rapidamente, os recifes conseguem adaptar-se, formando inicialmente um recife de franja, seguido do recife barreira e, finalmente, um atol, à medida que a ilha desaparece.

Figura 4. Evolução geológica de um atol de acordo com a teoria de subsidência de Charles Darwin. 1) Ilha vulcânica rodeada por recifes de franja; 2) a cintura do recife tende a aumentar à medida que a ilha se afunda; 3) o recife torna-se mais compacto; 4) a ilha desaparece e os corais estão mais desenvolvidos, delimitando uma lagoa profunda.

O contínuo crescimento dos corais no exterior mantém o recife à superfície, mas no seu interior, devido às condições de água calma e elevada sedimentação tal não é possível, o que faz com que se desenvolva uma lagoa.

Por volta dos anos cinquenta fizeram-se perfurações nas ilhas Marshall (atol de Eniwetok), até 1283 m de profundidade, onde se encontrou rocha vulcânica, confirmando assim a teoria de Darwin (Lad et al., 1953 in Nybakken, 1988). Esta teoria liga os três tipos de recifes numa sequência evolutiva, não sendo, no entanto, uma explicação para todos os recifes de franja e barreira.

 Referências


Guilcher, A. (1988). Coral Reef Geomorphology. John Wiley and Sons Ltd, 228p.

Nybakken, J.W. (1988). Marine biology. An ecological approach. Harper and Row, Publishers, New York, 514p.

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