As aves e o controlo de pragas florestais

António Cláudio Heitor
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Nos eucaliptais, ecossistemas muito “artificiais”, ao qual as nossas espécies faunísticas e florísticas estão pouco adaptadas, pelo facto do eucalipto ser uma espécie exótica, a diversidade biológica associada não é muito grande, quer em termos de insectos e de outros agentes passíveis de afectar a sanidade das árvores, quer de predadores desses mesmos insectos. Como resultado os eucaliptais estiveram sempre protegidos de pragas e doenças, pelo que não havia inicialmente problemas com o estado sanitário destes povoamentos. Mais tarde assistiu-se à importação de agentes patogénicos das áreas de origem, por falta de cuidados com medidas de quarentena, certificação e inspecção, acompanhado por uma adaptação, a este novo habitat, de espécies estabelecidas no nosso país. Como exemplo temos a introdução do Gorgulho do eucalipto (Gonipterus scutellatus Gyll.), que sendo originário da Austrália, tem vindo a expandir-se pelo sul da Europa, depois de ter atravessado o continente Africano desde a data da sua introdução na década de cinquenta, causando muitos estragos nos eucaliptais europeus.  

 Durante a maior parte do século XX, a maioria destes problemas com pragas era tratada com produtos químicos (por exemplo, DDT para os insectos desfolhadores), tendência essa que tem vindo a desaparecer, pois sabem-se hoje os perigos para a saúde pública que esses tratamentos acarretam. Para além disso, outros valores têm sido tomados em linha de conta, como a manutenção da biodiversidade, severamente afectada por tais tratamentos. Hoje em dia promovem-se processos que resolvam os problemas sanitários, mas que não sejam prejudiciais para a sustentabilidade do ecossistema e é aqui que as aves podem ter um papel cada vez mais importante como reguladores das populações de pragas e doenças, a par de todos os outros inimigos naturais desses insectos e de medidas culturais de prevenção na condução dos povoamentos.


As aves podem alimentar-se de insectos durante uma parte ou durante todo o seu ciclo de vida, e o seu efeito nas populações de insectos nocivos para a floresta pode potencialmente servir de base, ou de apoio, a um programa de combate de pragas florestais.  

Pode-se considerar que a maioria das aves insectívoras são consumidores facultativos, polífagos, pelo que existem dados muito contraditórios quando se pretende quantificar o seu impacto nas populações de insectos. Contudo, a sua acção como meio de luta biológica é unanimemente considerada como positiva. Mas a promoção de um plano de gestão florestal (protecção integrada, onde não se utiliza apenas os meios de luta químicos) com a recorrência às aves deverá acarretar ainda o desenvolvimento de estudos dos impactes das aves nas dinâmicas populacionais dos insectos, do impacte no nível do ataque dos insectos e de monitorização das interacções.

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