Como as árvores se tornaram música

Fernanda Bessa e Helena Pereira, Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia
Imprimir
Texto A A A

A madeira nos instrumentos musicais

A indústria de produção de instrumentos musicais tem-se preocupado desde sempre com as propriedades acústicas dos materiais, nomeadamente a ressonância das peças de madeira das espécies que utiliza. No entanto, existe pouca informação sobre as características dessas madeiras a nível anatómico, físico e químico que permitam ajudar a compreender as respectivas propriedades acústicas.

A madeira faz parte da construção de um grande número de instrumentos musicais, desde os instrumentos de orquestra até aos mais rudimentares (Figura 2). Relativamente aos primeiros, encontra-se no naipe das cordas (violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, harpa), no naipe das madeiras (flautim, flauta, clarinete, oboé, fagote, saxofone), que possuem esta designação porque estes instrumentos de sopro eram construídos em madeira e ainda se mantém apesar de os modernos flautins e flautas transversais serem hoje de metal, e ainda no naipe da percussão (bombo, xilofone, pandeireta, castanholas, blocos de madeira, maracas, claves). Alguns instrumentos musicais utilizam a madeira apenas numa ou noutra peça, enquanto outros são totalmente construídos em madeira, utilizando diferentes espécies para as várias peças, como é o caso dos instrumentos que têm como “corpo” uma caixa de ressonância.
Em Portugal, antes da descoberta do Brasil e de outras colónias, a construção dos instrumentos musicais utilizava a madeira de árvores de fruto (macieira, pereira), buxo e também o pinho. Com os descobrimentos, começou a importar-se madeiras tropicais, mais duras e com outras características.

A pesquisa das madeiras utilizadas para a construção dos diferentes instrumentos musicais mostra a existência de um leque muito vasto, incluindo 355 espécies diferentes. Trata-se de um assunto que envolve algum “secretismo”, de certo modo compreensível, pois cada construtor faz experiências e, com a prática e o decorrer dos anos, pode obter novos resultados, muitas vezes excepcionais: instrumentos exteriormente iguais podem possuir sonoridades muito diferentes. Apesar de hoje já existirem escolas de luthiers, continua-se a aprender com a experiência dos mais velhos (Figura 3). 

A viola dedilhada

A viola dedilhada, como o próprio nome indica, é um instrumento de corda dedilhada, cujo reforço do som produzido pelas cordas vibrantes se faz através da caixa de ressonância, formada por várias peças, utilizando-se para cada uma delas uma madeira diferente. A viola dedilhada é constituída por duas partes: a caixa de ressonância propriamente dita e o braço (Figura 4). A caixa de ressonância é formada por três peças, cada uma construída com espécies diferentes de madeira: o tampo, o fundo e as ilhargas, o braço que se divide no braço propriamente dito e na escala.

Acusticamente, a viola dedilhada pode ser considerada como um sistema de osciladores acoplados. As cordas emitem uma potência acústica reduzida mas, através do cavalete, activam o tampo que transmite energia ao ar existente no interior da caixa, o fundo e as ilhargas reflectindo as ondas sonoras, pelo que a emissão apresenta um maior volume sonoro.

Comentários

Newsletter