A Floresta e os Florestais na História de Portugal (parte I)

Nuno Leitão
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Quando se chega ao reinado de D. João V a desarborização do país é a mais acentuada de sempre, com a expansão das culturas de cereal e das vinhas, quando as necessidades em madeira não são sentidas devido à importação de material lenhoso do Brasil, quando os fogos se acentuam para a promoção de pastagens ou para obtenção de carvão para a indústria. A situação da floresta portuguesa vive o seu pior período com este monarca e, apesar de lhe ser atribuída a criação do pinhal dos Medos (a Mata dos Medos), só no reinado seguinte foram tomadas medidas concretas para se inverter esta situação.

É sob a governação do Marquês de Pombal, que também possuía o alto critério para este sector de interesses públicos, que se tomam medidas para inverter a calamitosa situação. Em 1751, o Pinhal de Leiria é transferido do Conselho Real para a Inspecção de Marinha e criam-se os postos de Guarda-mor e de Superintendente. A partir daqui os responsáveis pela indústria naval, os principais afectados pela falta de madeira, ocupam-se da gestão dos recursos florestais. A exploração da madeira e as preocupações para com os povoamentos de árvores passaram a ser o principal objecto de actuação de quem ocupa os novos cargos criados. Houve a subdivisão de funções, ficando os Monteiros-mor remetidos às funções referentes aos cuidados para com a fauna cinegética, nas Coutadas Reais.


Mais tarde, na altura da Rainha D. Maria I, torna-se imperioso acabar com o poder e abusos que permitiam tais cargos de “Oficiais” da floresta, que nem sequer formação definida tinham. Em 1783 o cargo de Guarda-mor é extinto, prevalecendo o de Superintendente, mas oito anos mais tarde todos os postos de Oficiais e subordinados (Guardas menores, Couteiros) são extintos, ficando à responsabilidade do Corregedor de Leiria, agora Juiz Conservador dos pinhais da região, a criação de novos cargos. De facto, desde os tempos do Monteiro-mor que estes Oficiais pertenciam ao grupo das pessoas com mais poder no país, podendo matar quem pretendesse utilizar, sem autorização, os recursos silvestres nas zonas defendidas pelos Soberanos.

Pouco depois, José Bonifácio de Andrada e Silva, nascido no Brasil, formado em Direito e Filosofia pela Universidade de Coimbra e especializado em História Natural e Metalurgia, vai intervir no sector florestal, dando origem à figura do florestal dos tempos modernos. Após a sua especialização no estrangeiro durante 10 anos, principalmente na Alemanha, regressa a Portugal, em 1800, para ocupar os cargos de Professor de Metalurgia na Universidade de Coimbra e de Intendente Geral das Minas e Metais. Apesar dos seus cargos iniciais, os conhecimentos florestais adquiridos, devido ao facto de ter acompanhado as lições do Conde de Burgsdorff, Monteiro-mor de Brandeburgo, acabaram por torná-lo no primeiro técnico florestal diplomado a trabalhar em Portugal. Com Andrada e Silva a intervenção na floresta passará a ser fundamentada e apoiada em medidas técnicas e científicas.

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