Vantagens de comer Biológico

Alexandra Costa (AGROBIO) e Jean-Claude Rodet
Imprimir
Texto A A A

A Agricultura Biológica tem-se vindo a afirmar como uma forma mais sã de produzir alimentos. Aqui encontrará uma súmula das vantagens para a saúde, sociedade e ambiente de uma forma de agricultura que ganha cada vez mais adeptos.

“Nenhuma actividade humana, nem mesmo a medicina, tem tanta importância para a saúde como a agricultura”. Prof. Pierre Delbet (Academia de Medicina, França).

Na civilização em que vivemos, nem sempre é evidente a importância que o sector primário assume nas nossas vidas. À medida que a população activa que se ocupa deste sector se vai reduzindo, os nossos filhos vão crescendo, nas cidades, habituados a conhecer como origem dos alimentos assépticas prateleiras de supermercados. Se o fosso que separa a população portuguesa das suas origens rurais parece acentuar-se, um pressuposto permanece inalterável: dependemos da terra para a nossa sobrevivência; é a agricultura que sustenta a actividade e conquistas da nossa civilização moderna. É, pois, uma actividade vital e com repercussões globais: no ambiente, nas plantas, nos animais, no Homem.

Mas... que agricultura?

Tradicionalmente sabia-se, no nosso país, como preservar a fertilidade do solo, faziam-se siderações, rotações – existia uma racionalidade na agricultura que se prendia com a continuidade ao longo das gerações, porque a terra era passada como um bem precioso de pais para filhos e servia verdadeiramente como base para a saúde e sobrevivência...

No final da primeira Grande Guerra, no entanto, as empresas que fabricavam explosivos foram reconvertidas para a produção de adubos azotados para a agricultura. Foi o início da Agricultura moderna. Seguiram-se a este inúmeros avanços tecnológicos, desenvolveu-se a indústria dos pesticidas, uniformizaram-se práticas e aumentaram-se rendimentos. Mas o preço deste acréscimo de produtividade foi elevado: contaminação do solo, das águas, da atmosfera e dos alimentos; desertificação do meio rural; endividamento e dependência do agricultor relativamente a factores de produção e subsídios; perda de biodiversidade, descaracterização da agricultura e perda de práticas ancestrais de uma agricultura sustentável no tempo; milhares de envenenamentos acidentais por pesticidas todos os anos; efeitos na saúde humana e animal que ainda agora começam a ser conhecidos: cancros, doenças degenerativas do sistema nervoso, infertilidade…


A Agricultura moderna contribuiu largamente para inquinar o ambiente e os alimentos, que são a base da nossa saúde.

Como alternativa a estes sistemas de produção tem vindo a ser desenvolvida, desde os anos 40 (embora com raízes em movimentos que tiveram início nos anos 20), a Agricultura Biológica. Longe de representar um retrocesso no tempo, é um sistema de produção que procura aliar tecnologias modernas com práticas de agricultura sustentável, não poluente, de base ecológica. Em países desenvolvidos, trata-se de uma mudança fundamental para inverter o processo de poluição e contaminação generalizada, de erosão e perda de solo, de desertificação de zonas rurais. Em países do Terceiro Mundo, permite às populações cuidarem do próprio solo, tornarem-no ou manterem-no fértil, produzirem o seu próprio alimento com base em recursos locais, conferindo-lhes a autonomia necessária para um desenvolvimento mais equilibrado e independente.

Enquanto consumidores, podemos ter uma palavra a dizer, a nível individual, através das nossas escolhas de consumo. Estas podem exercer uma influência determinante: em benefício da nossa própria saúde e da dos nossos familiares e, ao mesmo tempo, em defesa do ambiente, dos solos e das águas, da vitalidade dos espaços rurais. Nesse sentido, consumir alimentos biológicos é um gesto positivo e inovador, um voto concreto para uma mudança necessária no sentido da saúde e do bem-estar global – individual e planetário. Vejamos mais aprofundadamente como e porquê…

AS VANTAGENS DE CONSUMIR BIOLÓGICO

Vantagens para a saúde

O consumo de alimentos sãos, não desnaturados e isentos de contaminação química, é um meio preventivo por excelência. Nesse sentido, os alimentos biológicos contribuem plenamente para uma alimentação promotora de saúde e bem-estar. A superioridade destes produtos para a alimentação humana tem sido demonstrada em várias vertentes:

1. Valor nutritivo e sabor

Diversos estudos realizados indicam que os produtos de Agricultura Biológica são mais ricos em matéria seca, minerais e vitaminas, incluindo anti-oxidantes (importantes na prevenção do cancro). O seu menor teor em água, dando lugar a uma maior concentração em matéria seca e nutrientes, reflecte-se num sabor e aroma mais ricos. Consumir produtos de Agricultura Biológica é, assim, um modo de reencontrar o sabor genuíno e tradicional dos alimentos, uma forma saborosa de promover a saúde.

 


Tabela 1 - Composição de produtos hortícolas fertilizados com composto (Agricultura Biológica), comparativamente com produtos fertilizados com adubos químicos de síntese (Agricultura convencional (médias de 12 anos) (Schuphan, 1975).



Cientistas comprovam maior valor nutritivo dos alimentos biológicos

Investigadores da Universidade de Rutgers meteram mãos à obra no sentido de contestar a ideia de que “o biológico é melhor”. Tendo seleccionado alguns produtos adquiridos em supermercados e lojas de dietéticos, passaram a analisar o seu conteúdo em matéria de elementos minerais. Entende-se por alimentos biológicos todos os produtos provenientes de culturas sem recurso a pesticidas ou fertilizantes químicos. Os alimentos não biológicos, aqui entitulados de “convencionais”, foram produzidos à custa de inúmeros produtos químicos para aumentar o crescimento e destruir pragas, muitos dos quais são já reconhecidos ou suspeitos de gerar cancro e que contribuem largamente para a destruição do ambiente e da vida selvagem. Os investigadores esperavam que os produtos biológicos apresentassem eventualmente valores comparativos pouco superiores, mas os resultados foram surpreendentes. A quantidade de ferro nos espinafres biológicos era 97% mais do que nos espinafres convencionais e o teor em manganês 99% superior. Muitos oligoelementos essenciais estavam totalmente ausentes nos produtos convencionais, enquanto que nos produtos biológicos eram abundantes.

Comentários

Newsletter