Cortinas de Abrigo

Nuno Leitão
Imprimir
Texto A A A

As cortinas de abrigo são elementos estruturantes numa paisagem agrícola. Estas podem ser remanescentes de antigas florestas, resultado de colonização espontânea ou plantadas devido à sua importância para a agricultura, fauna e flora.

As cortinas de abrigo de paisagens agrícolas, compostas por árvores e arbustos, têm um papel fundamental para a protecção das culturas agrícolas, do gado e da fauna e flora silvestres, particularmente em zonas muito expostas ao vento, como nas regiões costeiras. Comparativamente a áreas expostas, a velocidade do vento é reduzida em cerca de 30 a 50% numa área protegida por uma cortina de abrigo.


A redução da velocidade do vendo traduz-se em alterações microclimáticas na área protegida. A extensão da zona sob o efeito da cortina de abrigo, depende da velocidade e turbulência do vento e da orientação e estrutura da cortina. Teoricamente (num túnel de vento), na zona protegida, distinguem-se duas situações derivadas da influência das cortinas: a zona QUIET e a zona WAKE (Fig. 1).
 
A zona QUIET, situada imediatamente a sotavento da cortina de abrigo, tem forma triangular e tem uma extensão de 8h (h é a altura da cortina de abrigo). Nesta zona, verifica-se a redução máxima da velocidade do vento e uma turbulência muito reduzida.

A zona WAKE situa-se a sotavento da zona QUIET, é de maior extensão e é caracterizada pela ocorrência de turbilhões de maior dimensão. A turbulência nesta zona pode mesmo ser superior à turbulência numa área sem a protecção de uma cortina de abrigo. A sotavento da zona WAKE o perfil do vento retoma as características das zonas sem influência das cortinas.


Fig. 1 - Zona QUIET e zona WAKE representando as alterações dos padrões do vento devido à presença de uma cortina de abrigo de altura h.
 

As zonas QUIET, em particular, têm várias consequências positivas:


1. Redução substancial do efeito abrasivo do vento nas folhas das culturas, efeito este que quando não é minimizado leva a que as folhas danificadas não controlem a sua transpiração.


2. Redução do efeito desfoliante, o que afecta os índices de área foliar e consequentemente permite aumentos de produtividade, além de que nas plantas não protegidas podem ocorrer folhas mais espessas (folhas com mais células lenhificadas) o que reduz a taxa relativa de crescimento.


3. Diminui a queda de frutos.


4. Redução da erosão eólica, que em zonas muito ventosas, poderia comprometer a produtividade, e reduz, entre outros impactos negativos, a emergência de plantas e o desenterramento de sementes.
 
5. Reduz a transpiração das plantas se o ar estiver seco, o que traduz aumentos de produção, mas se a atmosfera estiver húmida, a transpiração é superior à de plantas em zonas não protegidas.


6. Aumenta a temperatura até cerca de 2ºC, o que pode ser muito importante em climas frios, podendo determinar o aumento da taxa de crescimento e o aumento do período de crescimento. No entanto, em climas quentes este efeito pode ser muito negativo, podendo causar danos irreversíveis na fotossíntese, divisão celular e crescimento.


7. Aumenta a produção das culturas numa média de 23% a 25%, podendo chegar a aumentos de 50%. Este efeito, consequente dos anteriores, varia com as condições climáticas. Em cada clima, se os factores limitantes forem minimizados pelos efeitos descritos nos pontos anteriores, podem-se verificar aumentos significativos nas produções.


A altura da cortina de abrigo tem também influência a barlavento (em cerca de 3h a barlavento) com efeitos idênticos às zonas QUIET (Fig. 1).

Comentários

Newsletter