Os fungos que descobriram a agricultura

Maria Carlos Reis
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Os seres vivos formam por vezes parcerias notáveis. Os líquenes, resultado de associações íntimas entre algas e fungos, são extraordinários organismos pioneiros, verdadeiros representantes da vida nos meios mais inóspitos.

Nos mares de há cerca de 3 500 milhões de anos surgiram as primeiras formas de vida, organismos muito simples e unicelulares. Dois mil anos mais tarde, flutuavam nas águas as primeiras algas microscópicas autotróficas (capazes de utilizar directamente a luz solar), algumas das quais, há cerca de 400 milhões de anos, conseguiram alastrar para a terra húmida, sobrevivendo sob a forma de uma fina cobertura verde no solo. Foi, então, que encontraram fungos, semelhantes a fibras, que nessa época também iniciavam a colonização da Terra. 
 
Onde vivem plantas, morrem plantas, e os fungos existiam para consumir os restos. Sem clorofila não podiam realizar a fotossíntese e sintetizar a partir da luz solar as substâncias orgânicas de que necessitavam. No entanto, e tal como hoje, eram capazes de obtê-las, segregando ácidos que dissolviam as substâncias minerais das rochas e dos solos. Por isso, algas e fungos completavam-se. Os fungos podiam absorver amidos e açúcares das algas e estas podiam extrair substâncias minerais dissolvidas na água que retiravam aos fungos, para sintetizarem os compostos orgânicos. Estabeleceu-se, assim, uma parceria, e os fungos encerraram as algas nos seus tecidos, num abraço muito íntimo, que sobreviveu até aos nossos dias, nas formas de vida que conhecemos como líquenes. Eles constituem a mais próxima e a mais íntima das ligações entre plantas e fungos no planeta e, embora sejam formados por dois organismos, cada par é encarado como uma entidade única.

 

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