As Características BioTécnicas da Vegetação: critérios de selecção de espécies para recuperação de áreas degradadas

Vasco Rocha - Consultor em Engenharia Natural e Paisagismo
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A utilização de plantas e da vegetação autóctones como materiais de construção vivos constitui a razão principal por que os projectos de Engenharia Natural apresentam elevada compatibilidade e integração ambiental. A sua escolha baseia-se numa diversidade de critérios tais como: as características edáficas e estacionais do local, as características biotécnicas das plantas, a sua tipologia de propagação, velocidade de crescimento e disponibilidade de material vegetal.

Como já foi referido em artigos anteriores sobre Engenharia Natural neste portal, as plantas nas suas diferentes tipologias e formas de instalação e propagação, são o material de construção primeiro de uma obra de baixo impacte ambiental.

São consideradas fundamentalmente do ponto de vista funcional, assumindo o coberto vegetal uma função extraordinariamente importante na defesa do solo, contrariando a acção desagregadora dos agentes externos, quer por acções de tipo físico-mecânico quer por acções de tipo hidrológico.

As acções de tipo mecânico induzidas pelas plantas sobre os taludes, encostas, e margens de linhas de água, consistem na protecção do solo dos efeitos erosivos resultantes do impacto directo da chuva e das águas de escorrência, devido ao papel desempenhado pelo aparelho radicular (relação entre o seu volume e o volume da parte aérea, biomassa do fuste (=1) como base de cálculo (Schiechtl, 1973), cujos benefícios são: aumentar a resistência ao corte, melhoramento dos parâmetros geotécnicos do solo pela agregação das partículas do solo e sua coesão, capacidade para consolidar e armar o solo.

Analogamente às acções mecânicas, as plantas desenvolvem um papel importante ao nível do ciclo hidrológico: redução da água no solo pela evapotranspiração através da folhagem e ramos e raízes, favorecendo uma menor pressão intersticial e aumentando a coesão das partículas e o ângulo de atrito, o que contribui para a estabilidade do solo.

Não menos importante é a função dos invertebrados existentes no solo (nemátodes, coleópteros, entre muitos outros), cujo movimento torna o terreno mais permeável à água e ao ar, favorecendo a velocidade de percolação da água e desta forma, reduzindo as zonas de instabilidade nos estratos superiores, onde frequentemente se iniciam os movimentos de terra.

A estabilização de um solo sujeito a solicitações mecânicas requer que as raízes das plantas resistam aos esforços de tracção e corte que daí resultam. A realização de testes laboratoriais de experimentação das propriedades mecânicas dos fustes e raízes tem sido prática corrente na Europa nomeadamente na Universidade de Viena de Áustria – BOKU (Bodenkultur), (Tab. 1) (Florineth, 2004), assim como o estudo da estrutura e distribuição dos sistemas radiculares em diversas instituições académicas em Portugal (Silva J.S., Rego F.C. & Martins-Loução M.A., 2003).

 

         

            Tab. 1 – Resistência à rotura de espécies herbáceas e lenhosas (Florineth, 2004)

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