O Fogo na Paisagem Mediterrânea

Nuno Leitão
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A vegetação nativa da região Mediterrânea apresenta-se hoje em diversas fases de degradação ou regeneração da antiga floresta que terá coberto as terras férteis da Bacia do Mediterrâneo, antes de ter começado a ser cultivada, ao longo de milhares de anos, subsistindo apenas alguns retalhos de florestas clímax, nalguns locais remotos. Os matos baixos ou tomilhares são a fase mais degradada da floresta mediterrânea na Península Ibérica, mas que não deixa de representar uma vegetação típica do bioclima susceptível ao fogo da região.


Muitas das espécies vegetais aqui presentes são estimuladas pelo fogo, ou seja, por factores abióticos como o calor e o fumo, que promovem fenómenos como a dispersão, a germinação, a floração, entre outros. Claro que muitas espécies, numa situação de sucessão ecológica após um fogo, devido ao seu oportunismo, ocupam a área no aproveitamento da nova disponibilidade de luz e espaço, mas tal não deve ser considerado uma adaptação directa ao fogo, já que as verdadeiras adaptações verificam-se em espécies que possuem mecanismos funcionais que lhes permitem subsistir após a sua ocorrência. 


 Um caso típico é o Carrasco, Quercus coccifera, que existe geralmente no estado arbustivo e que rebenta vigorosamente, através dos seus rizomas, após um fogo, e continua a fazê-lo após a ocorrência de vários fogos, exceptuando-se casos onde ocorra a degradação dos solos. Outro exemplo é a Azinheira, Quercus ilex ou Quercus rotundifolia, que possui uma grande capacidade para rebentar das toiças ou de rebentos basais. Mas o caso mais interessante é o do Sobreiro, Quercus suber, cujos troncos, protegidos pelo tecido vegetal mais isolador contra o calor do fogo, a cortiça, conseguem rebentar e regenerar rapidamente após este terminar, algo que só é equiparado aos eucaliptos australianos.

Outras espécies, não possuindo a capacidade de rebentar a partir das suas estruturas lenhosas, podem demorar mais tempo a recuperar, tornando-se mais dependentes do intervalo entre fogos. Nestas, as adaptações surgem, por exemplo, pela diminuição da idade de maturação para produção de sementes, com a produção de sementes de longa durabilidade e com mecanismos de resistência ao fogo, de forma a rapidamente colonizarem um local após a sua ocorrência. As sementes de algumas espécies podem passar por um estado de dormência, para serem estimuladas à germinação por factores relacionados com a ocorrência do fogo, como é o caso de espécies da família das Cistaceae ou das Papilonaceae. Outras espécies retêm as sementes até que ocorra um fogo, que permita a dispersão destas, como é o caso do Pinheiro de Alepo Pinus halepensis. 

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