Xiloteca de madeiras tropicais e comércio internacional

Fernanda Bessa, Teresa Quilhó e Helena Pereira - Centro de Estudos de Tecnologia Florestal, Instituto de Investigação Científica Tropical e Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia
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A identificação de madeiras

A identificação das madeiras é uma tarefa difícil e especializada, dada a enorme diversidade existente de espécies tropicais, a semelhança que ocorre entre algumas espécies e a multiplicidade de nomes vernáculos e comerciais, nem sempre correspondendo à mesma designação científica.

Para além da observação macroscópica da madeira (cor, textura, etc.), é necessária a observação à lupa para caracterizar a estrutura geral do tecido e, seguidamente, observá-lo em microscópio. A observação microscópica, feita em cortes finos (cerca de 20 micrómetros de espessura) e com colorações adequadas, permite caracterizar os elementos celulares quanto a tipo, forma e dimensões, assim como a presença de elementos de diagnóstico (por exemplo, cristais no interior das células). A existência de uma xiloteca e laminoteca de referência, assim como documentação adequada, são imprescindíveis.

Muitos dos conflitos que ocorrem entre clientes, industriais de madeira e importadores são devidos a questões de identificação das madeiras, frequentemente de nomenclatura. É de referir também que não existem normas ou regulamentação para a certificação de madeiras, o que vem dificultar ainda mais este processo.

A xiloteca

Existem poucos organismos vocacionados e com experiência de identificação de madeiras tropicais, com equipamento laboratorial específico, bibliografia especializada e principalmente com material de referência (amostras, lâminas com a estrutura de madeiras).

O Centro de Estudos de Tecnologia Florestal (CETF) do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), foi desde a sua criação direccionado para a identificação de madeiras, sobretudo tropicais, servindo-se para isso de uma xiloteca e laminoteca (Figura 2) que incluem muitas colecções de madeira de diversas origens (África, América, Ásia e Europa), e de laboratórios de apoio à investigação na anatomia e tecnologia da madeira.


Figura 2. Aspecto das colecções existentes na xiloteca do Centro de Estudos de Tecnologia Florestal (IICT) incluindo amostras de madeira, blocos para corte, e lâminas de montagem permanente com cortes finos para observação microscópica, exemplificando as três secções da madeira (transversal, tangencial e radial)
 

Na xiloteca, as madeiras estão organizadas por colecções, consoante a sua origem geográfica, e incluem: uma amostra de madeira (13 x 6 x 1 cm) com a correspondente representação na laminoteca, que inclui preparações definitivas com as três secções da madeira (transversal, tangencial e radial) e ainda lâminas com os respectivos elementos celulares dissociados. Existem, para cada madeira, frascos com exemplares talhados em bloco, que possibilitam a realização, em qualquer altura, de novos cortes histológicos para estudos adicionais da estrutura da madeira (Figura 2).

Um grande número destas madeiras é proveniente de missões realizadas nas regiões tropicais (nomeadamente em Angola, Moçambique, São Tomé e Princípe, Guiné, Goa e Timor), enquanto outras foram cedidas ou trocadas com laboratórios similares.

A xiloteca permite desde logo apreciar a grande diversidade no aspecto geral da madeira das diferentes espécies, tanto na cor, brilho, desenho, cheiro, textura e fio. Esta diversidade resulta da variabilidade anatómica e química, e traduz-se em diferentes propriedades físico-mecânicas e durabilidade, dando origem às mais diversas utilizações. Deste modo, para cada espécie, devem ser conhecidas as características estruturais da madeira e as suas propriedades, relacionando-as com os seus usos potenciais.

A organização de colecções de madeiras e a sistematização da informação é considerada fundamental quando se pretende a identificação de uma madeira, dando suporte aos estudos comparativos feito entre amostras. Torna-se assim fundamental o desenvolvimento experimental de um sistema de gestão de informação para a caracterização e a utilização das madeiras.

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