E depois do fogo? II. A evolução da vegetação

Joaquim Sande Silva, Escola Superior Agrária de Coimbra
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Embora a diversidade do coberto vegetal do nosso País seja expressão do balanço entre a dinâmica natural da vegetação e a acção humana, ela tem em comum a intervenção do fogo na sua evolução, num passado mais ou menos recente.

O clima em Portugal tem características que são comuns a todos os países da Bacia Mediterrânea. Em traços gerais, é um clima que se caracteriza pela existência de uma estação quente e seca (favorável à ocorrência de incêndios florestais) e de uma estação fria e húmida. Este tipo de clima, designado como clima Mediterrâneo, é ainda comum a quatro outras regiões do Mundo: a California, nos EUA, a região litoral Centro do Chile, a costa Sudoeste da África do Sul e a costa Sul e Sudoeste da Austrália.

Em todas estas regiões existe uma vegetação predominantemente arbustiva, formando mantos contínuos de um matagal mais ou menos fechado, a que se dá o nome de maquis em França, macchia em Itália, batha em Israel, heathlands na Austrália, fynbos na África do Sul, chaparral nos EUA e matorral no Chile. Formas mais degradadas deste tipo de vegetação recebem também nomes diversos na Bacia Mediterrânea: garrigue em França, tomillares em Espanha ou phrygana na Grécia. Em Portugal este tipo de formações é conhecida genericamente por matagal, mato ou matos

 Um aspecto comum a este tipo de ecossistemas é o facto de serem periodicamente percorridos pelo fogo e de conseguirem retomar rapidamente as características que tinham antes, ou seja, de possuírem uma elevada resiliência. Esta característica faz com que, para a maior parte das situações, só com alguma atenção se consiga detectar os efeitos do fogo em matagais queimados há mais de 5 anos. Muito embora a frequência dos incêndios seja hoje em dia bastante mais elevada, devido a factores diversos relacionados com a actividade humana, sabe-se que sempre foram uma constante ao longo da evolução da vegetação Mediterrânea. A capacidade que os ecossistemas Mediterrâneos têm de reconstituir, num relativamente curto período de tempo, a vegetação consumida pelas chamas é, portanto, o resultado de milhões de anos de evolução.

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