Produção das culturas para a fauna. O que fazer com ela?

João Carvalho
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Uma vez terminado o seu período vegetativo, as culturas para a fauna podem proporcionar ainda alimento e abrigo para diversas espécies. Sendo a sua produção quantitativamente inferior à das culturas tradicionais, não deixa de ser valiosa.

Uma vez que em geral não se aplicam herbicidas ou pesticidas às culturas para a fauna e que são semeadas em baixas densidades, a produção obtida é na maior parte das situações inferior à que seria de esperar para as mesmas culturas conduzidas com fins agrícolas tradicionais. Para além disso, o seu valor comercial é em geral reduzido, já que sem mondas químicas a produção não é homogénea. Assim, no caso dos cereais, o grão obtido está muito “sujo” com sementes de diversas infestantes, não compensando proceder à sua limpeza e a palha tem igualmente uma elevada percentagem de outras plantas.

Se do ponto de vista da produção agrícola estas situações são indesejáveis, já do ponto de vista da fauna não se passa o mesmo. Assim, por exemplo no caso dos cereais, a mistura de sementes de cereal e infestantes que se obtém ao ceifar e debulhar a cultura, tem um elevado interesse para a alimentação da fauna. De facto, as sementes de muitas infestantes são alimento preferencial para algumas espécies cinegéticas.

Partindo deste princípio, alguns gestores semeiam, por exemplo, trigo para as perdizes, cumprindo esta cultura as funções de coberto de abrigo, nidificação e alimentação, durante a sua permanência no terreno. Depois de ceifado e debulhado o cereal, o grão obtido, com uma elevada percentagem de sementes de outras plantas, é utilizado para alimentar as mesmas perdizes, mas desta vez distribuindo o grão em comedouros. Outra alternativa consiste na utilização das sementes assim obtidas na sementeira de novas culturas para a fauna.

 

Assim, devem evitar-se a ceifas muito temporãs, já que iriam coincidir com o período de nidificação de diversas espécies, existindo uma elevada probabilidade de destruir ninhos com ovos ou ninhadas recém-eclodidas. Por outro lado, para proporcionar alimento para a fauna, é necessário que a seara amadureça e comece a desgranar, o que só acontece quando as ceifas são mais tardias.

Deve ainda atender-se à forma como as ceifas são conduzidas, sendo aconselhável ceifar do centro da folha para as cabeceiras e nunca o contrário. De facto, ao conduzir a ceifa em direcção ao centro da folha, andando a ceifeira em voltas concêntricas cada vez mais apertadas, está-se a dirigir toda a fauna, cinegética ou não, para o centro da folha, onde há maior probabilidade dos animais serem apanhados pela frente de corte da ceifeira. Para além disso, é fortemente aconselhável a utilização de barras «espanta-caça», dispositivos que são colocados à frente das alfaias ou dos tractores e, como o nome indica, espantam os animais e evitam que estes sejam pisados pelo rodado dos tractores ou apanhados pelas barras de corte ou pelas ceifeiras.

Pode-se também, em vez de se ceifar, apenas passar uma grade ou um escarificador, enterrando alguma da semente produzida, a qual voltará a germinar após as primeiras chuvas.

Do ponto de vista da gestão da fauna, sempre que se proceda à colheita das culturas, é benéfico deixar algumas bolsas ou faixas de cereal por ceifar, permitindo assim manter no local condições de abrigo e alimentação durante um período mais alargado. De facto, com a desgrana natural das espigas, o grão vai sendo disponibilizado a pouco e pouco, proporcionando excelentes recursos alimentares para a fauna. Este tipo de prática permite obter bons resultados na fixação de espécies como a rôla, obtendo-se igualmente bons resultados em espécies como a perdiz e a codorniz e diversas espécies granívoras não cinegéticas.

Caso o gestor opte por não colher a cultura, e sempre que não se justifique a sua permanência em pé, deverá procurar-se acamar a palha, na totalidade da parcela ou deixando as faixas ou bolsas atrás referidas, de modo a proporcionar alimento para a fauna em maior abundância. Para obter este efeito e para derrubar a cultura, recorre-se em geral ou a uma grade de discos ou à passagem de algum gado. Nas gradagens deve ter-se igualmente em atenção as indicações que foram referidas para as ceifas.

 


 
A passagem de cavalos, ovelhas ou de outro gado, durante pouco tempo e nas densidades convenientes, tem ainda a vantagem de deixar algum estrume no terreno, o que vai favorecer o aparecimento de insectos e fertiliza o solo.

Projecto AGRO - "Culturas para a Fauna em Montado: Demonstração dos seus efeitos na Gestão Cinegética e na Biodiversidade" - Candidatura nº 106

 

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