A Azinheira - causas da degradação do montado de azinho

Nélia Valério
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A azinheira vem, desde há muito tempo, sendo objecto, por parte do Homem, da mais sistemática destruição, isto é, mutilando-a ou suprimindo-a, com vista à obtenção de rama, lenha, madeira, carvão, casca e fruto e, mais recentemente, solo “descoberto” para sementeira de searas ou melhoria de pastagens. Em resultado, o velho bosque de azinho foi–se transformando e está para alguns irremediavelmente condenado (Gonçalves, 1995).

Sem rendimento pecuário e com os preços da lenha e carvão reduzidos até ao extremo, compreende-se que uma economia empresarial vulgar não pudesse ou não quisesse manter o montado de azinho. Exigindo a sua manutenção a prática de podas, desmoitas, desinfecções e lavouras periódicas que o condicionalismo actual não permite que sejam pagas, na maioria das explorações, com o rendimento do montado, agravou-se de forma intensa e sempre progressiva a sua eliminação, conversão ou abandono.

Deste modo, segundo Gonçalves (1995), infelizmente foi desenvolvida a supressão do azinho em corte raso ou em intenso desbaste, a muitas zonas de aptidão agroflorestal ou exclusivamente florestal, de declives acentuados e de solos facilmente erosionáveis, prática técnica e ecologicamente condenável sobretudo se não acompanhada, como usa ser, de quaisquer precauções tendentes a contrariar a erosão.

Porém, infelizmente, segundo Gonçalves (1995) o que fica sobretudo de pé é a permanência ou conversão da azinheira quando se encontra em solos muito degradados e declivosos de xisto, na Zona Iberomediterrânea, com chuvas rondando os 500 mm, e nestes apesar do condicionalismo presente, o menor mal é a manutenção do azinhal.

Eliminando as podas, as desmoitas e lavouras, o azinhal entra em imediata regressão, com pontas secas, diminuição de frutificação, invasão de mato, numa palavra, iniciará o longo caminho de retorno à floresta natural. Será então a pastagem herbácea substituída por matos variados do tipo heliófilo, dificultado pelos mesmos o pastoreio, diminuída a frutificação, só a vaca e a cabra poderão agora tirar partido da associação azinheira x matos, sobretudo e cada vez mais esta última, dada a abundante vegetação arbustiva.

A questão dos matos é sem dúvida, algo que preocupa pois deve-se ou não retirar os matos dos montados? Segundo Carvalho (1993), o montado é um sistema agroflorestal tipicamente agro-silvo-pastoril, onde a intervenção humana é fundamental para o equilibrado maneio do espaço. Sempre houve árvores em baixa densidade; sempre houve culturas e pastagens; sempre houve vida bravia e gados em pastoreio extensivo e sempre houve matos. Os matos tinham diversas utilidades, uma delas era facilitar a regeneração espontânea dos arvoredos, no entanto, não se podiam manter por muito tempo em desenvolvimento porque acabavam por tirar o vigor às jovens árvores. Os matos entravam em rotação com as culturas e pastagens, cobrindo arrifos pedregosos e zonas de declive considerável. Este maneio reduzia o risco de fogo, fornecia camas e forragem aos animais e facilitava a regeneração das árvores. O progressivo abandono a que se tem assistido nos campos, pela perda de interesse da actividade agrária, provocou o desequilíbrio no maneio do montado.

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