Orquídeas

Miguel Porto
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As orquídeas elevaram a vida a uma arte. Mais do que nas outras plantas, aqui cada pormenor da vida desde a germinação à frutificação foi cuidadosamente calculado; com mestria tiraram o máximo partido da vida em comunidade explorando os seus vizinhos de formas nem sempre honestas, de tal forma que ficaram tão dependentes da comunidade, que é quase uma atitude de parasitismo para com ela. É também por isso que são plantas muito sensíveis a qualquer coisa que altere este equilíbrio em que vivem.

Existe qualquer coisa associada ao conceito de orquídea que faz com que estas plantas sejam tratadas de uma forma especial. Com efeito, poucas flores conseguiram, aos nossos olhos, adquirir tanta beleza e complexidade como as das orquídeas, e esta característica não é só de algumas, espalha-se por vários milhares de espécies, ou não fossem as orquídeas a maior família de plantas.

A estimativa mais conservadora do número de espécies de orquídeas aponta para 17000, mas números tão altos como 25000 são normalmente referidos. Claro que esta disparidade não se deve ao desconhecimento das espécies mas sim ao modo como elas são classificadas, que depende da perspectiva de cada autor sobre onde colocar os limites entre espécies diferentes.

Em termos botânicos, as orquídeas pertencem à família Orchidaceae, uma família mais ou menos homogénea, que só recentemente, devido a estudos moleculares, viu separados alguns dos seus géneros em pequenas famílias independentes. Sem entrar em pormenores demasiado técnicos, a família caracteriza-se por ter flores sempre com 3 sépalas e 3 pétalas (ocasionalmente podem ser muito semelhantes entre si), uma das quais se encontra modificada, sendo bastante diferente das restantes em forma, tamanho, padrões e cores. Esta pétala chama-se labelo e está, quando a flor está aberta, na posição inferior. É o labelo que é o principal responsável pelos complexos mecanismos de polinização que a seu tempo falaremos.

A característica mais ímpar da família, contudo, é o modo como os órgãos sexuais da flor estão arranjados: não existem estames nem estigmas normais, individualizados, como estamos habituados a ver nas outras flores. Aqui o estame é só um e está fundido com o estilete e o estigma numa estrutura complexa.

O pólen é também muito especial pois está aglomerado em duas grandes massas – as polinídias – as quais se destacam como um todo, ao invés da maioria das plantas, que liberta os seus grãos de pólen soltos ou no máximo em aglomerados de pequena dimensão. Esta característica só acontece em mais uma família em todo o Reino Vegetal – as Asclepiadaceae. No entanto, para não variar, há excepções a todas estas regras gerais, pois nem todas as orquídeas apresentam estas várias características.

Em resumo e com alguma segurança, para se reconhecer uma orquídea temos basicamente que procurar os estames: se não se vêem estames individualizados, é muito provavelmente uma orquídea.

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