Sucessão Ecológica

Cristina Rosalino e Luís Miguel Rosalino
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Desde a Antiguidade que o homem se apercebe de alterações nas paisagens naturais à sua volta. A sucessão ecológica é uma dessas transformações e conduz as comunidades a estádios de equilíbrio dinâmico com o ambiente.

Ninguém pode examinar uma colecção de fósseis, ordenada cronologicamente, sem ficar impressionado com as evidentes alterações que ocorreram ao nível das espécies. Os fósseis testemunham, além destas, mudanças nos ecossistemas (por exemplo, num local onde outrora existia um pântano, pode hoje estar uma floresta).

À nossa escala temporal também é possível percepcionar transformações nos ecossistemas. Estas podem ser agrupadas de acordo com o tipo de alteração verificado e com o intervalo de tempo em que acontecem. Podemos considerar alterações não direccionais, diárias ou anuais, que se sucedem mais ou menos continuamente (flutuações e ritmos) e transformações tendenciais, durante alguns anos ou séculos, que se seguem a um processo de colonização (sucessão ecológica).

A sucessão ecológica ocorre porque, para cada espécie, a probabilidade de colonização muda ao longo do tempo, tal como mudam os factores abióticos (ex. Luz e características do solo) e bióticos do meio (ex. abundância de “inimigos” naturais e capacidade competitiva de outras espécies). Se a paisagem fosse observada em vários momentos ao longo do tempo, constatar-se-ia que o processo de colonização de um dado local é possível porque organismos invasores - espécies pioneiras - conseguem instalar-se e, à medida que se desenvolvem, favorecer a fixação de outras espécies. A este estádio segue-se então um estádio intermédio, em que as espécies presentes no local são mais exigentes em relação aos factores ambientais. Esta nova comunidade pode, mais tarde, ser substituída por outra e assim sucessivamente, até que se estabelece uma comunidade mais complexa – subclimax - que precede o estádio final da sucessão, altura em que se atinge o climax, ou seja, o equilíbrio dinâmico entre as espécies e o ambiente.

 

São os “atributos” das espécies que determinam o seu lugar na sucessão e o seu tempo de permanência no local. Este é, portanto, um processo imprevisível, que pode terminar de formas diferentes, condicionadas por vários factores, e dinâmico no espaço e no tempo.

ALGUNS EXEMPLOS DOS PRINCIPAIS TIPOS DE SUCESSÃO VEGETAL

Sucessão primária numa área de dunas recém-formadas

A sucessão ecológica que ocorre numa área onde não existia vida, como é o caso das dunas recém-formadas, designa-se por sucessão primária.

As gramíneas constituem a comunidade pioneira em superfícies inóspitas, como a areia de dunas, visto que os seus caules rasteiros e raízes profundas possibilitam a colonização deste tipo de substrato. Espécies como Ammophila arenaria permitem a deposição gradual de partículas de areia transportadas pelo vento, junto à raiz, e caules aéreos, o que conduz à modificação do habitat. Estudos recentes demonstraram que a substituição de espécies como Ammophila arenaria não se deve apenas à alteração das condições abióticas, facilitadoras da instalação de outras espécies competidoras, mas também a diferenças na sensibilidade dos primeiros colonizadores a nemátodes e fungos do solo que lhes degradam o sistema radicular.

 

A consolidação e enriquecimento do solo permitem a invasão de outras espécies, como o pinheiro (Pinus pinaster), que consegue colonizar o substrato arenoso da duna estabilizada. Este, posteriormente, pode ser substituído em zonas elevadas ou expostas por Carvalhos (Quercus sp.). Estas espécies são referidas apenas a título de exemplo, uma vez que várias sequências de colonização são possíveis, dependendo do acaso e das circunstâncias locais.

Sucessão secundária após um incêndio

A sucessão secundária ocorre quando há destruição da comunidade instalada num dado local, quer por catástrofes naturais, quer por perturbações causadas pelo homem.

Esta sucessão é, normalmente, mais rápida que a primária, uma vez que no solo permanecem alguns microorganismos e um razoável banco de sementes e propágulos vegetativos que tornam o substrato, previamente ocupado, mais favorável à recolonização.

Independentemente da sua origem, o fogo periódico desencadeia, nas áreas que assola, adaptações nas comunidades bióticas que aí existem, e que assim evoluem no sentido de suportarem cada vez melhor a recorrência desta perturbação. Nas regiões mediterrânicas algumas plantas têm mecanismos de dispersão e germinação estimulados pelo fogo de superfície. Este alastra rapidamente e não provoca grande subida de temperatura, ao nível das plantas e do solo, uma vez que é alimentado por combustíveis que se convertem rapidamente em cinzas.

 

Após o fogo, nas regiões mediterrânicas, o coberto vegetal será formado essencialmente por rebentos jovens de espécies que, libertas da competição das árvores dominantes e estimulados pelas reservas dos órgãos subterrâneos resistentes ao fogo, formam matagais densos. Estão nesta situação espécies de urze (Erica sp.), que possuem rebentamento por toiça, e de esteva (Cistus sp), que produzem sementes cuja germinação é activada pelo calor. Tal como na generalidade das sucessões, ao longo do tempo aumentam os recursos existentes no solo e diminui a luz disponível à sua superfície - um dos recursos limitantes para as espécies até então estabelecidas. Podem assim invadir o local espécies arbóreas, como os Carvalhos (ex. azinheiras ou sobreiros), que numa fase inicial podem coexistir com os matos, mas que posteriormente acabam por substituí-los e dominar a paisagem.

Sucessão cíclica numa ilha com vulcões não extintos

Neste caso verificam-se transformações cíclicas, visto que se retrocede à etapa inicial de colonização, após um intervalo de tempo mais ou menos longo. Inicialmente o solo nu é colonizado por líquenes, que formam a comunidade pioneira, de crescimento lento, e que interage com os factores abióticos, modificando o habitat. À medida que se forem estabelecendo fracturas no substrato rochoso, causadas pelos organismos e pelos factores ambientais, este poderá então ser invadido por organismos “mais exigentes”. Nestas fendas forma-se solo de espessura favorável à instalação de fetos e arbustos, que no final deste processo poderão dar lugar a uma comunidade florestal. Uma nova erupção pode interromper este processo a qualquer momento e deixar o solo novamente nu.

 

A atenção dos investigadores centra-se, actualmente, nos diferentes processos pelos quais a sucessão ocorre. Só compreendendo os seus mecanismos fundamentais é possível estabelecer bases racionais para a conservação e gestão do património ambiental e minimizar os efeitos das perturbações causadas pelo homem nos ecossistemas.

 

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