À conversa com o Professor Miguel Ramalho

Sara Otero
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Raramente nos damos conta que muito do nosso dia a dia tem a ver com Geologia. Fomos conversar com o Prof. Miguel Ramalho, geólogo e cidadão, sobre algumas questões relativas a esta ciência e à sua importância crucial para todos nós.

Propusemos uma conversa ao Professor Miguel Ramalho, não como Vice-Presidente do Instituto Geológico e Mineiro, mas como geólogo e cidadão, numa tentativa de levantar um conjunto de questões relativas, por exemplo, à divulgação e dinamização da defesa do nosso património geológico e aos principais problemas que se nos deparam em termos da sua preservação.


Nós sugerimos os tópicos, dado o mote o desenvolvimento é do Professor.

 
A DIVULGAÇÃO E DINAMIZAÇÃO DA CIÊNCIA GEOLOGIA:

Na base há um problema de passagem de informação dos aspectos relativos à geologia para a opinião pública. As pessoas sabem o que é uma árvore, um cavalo, etc., porque é muito visível na vida de todos os dias, ou têm conhecimento, devido inclusivamente à sua experiência de utilização. Também têm conhecimento dos assuntos relativos à biologia devido aos programas do ensino básico e secundário, onde a biologia tem uma grande importância, fazendo as pessoas aderir a esse tipo de informação com relativa facilidade. Por outro lado, na televisão a maioria dos programas são sobre questões relativas à biologia ou problemas biológicos com animais e plantas e, portanto, o grande público está mais familiarizado com esses assuntos.


Assim, partimos de uma base onde, de um modo geral, existe falta de conhecimento do que é a geologia, porque na realidade as pessoas não tiveram acesso à linguagem da geologia. Além disso, a linguagem dos geólogos é também um pouco abstrusa: é uma linguagem científica, e como as pessoas não estão familiarizadas com os objectos geológicos, também desconhecem a linguagem. Finalmente, os geólogos, de uma forma geral, não se têm preocupado com a divulgação da geologia, ou seja, estão convencidos que a opinião pública está muito a par do que é a geologia e, portanto, falando em termos geológicos julgam que o cidadão normal os está a compreender. Afugentam as pessoas. 
 
Uma pessoa vai a uma pedreira, a uma barreira litoral, e vê aquelas camadas de material geológico continuamente sobrepostas. É difícil ter a percepção do que se está a ver. É necessário fazer ver às pessoas que aquelas camadas são como se tratasse de um bocadinho do livro da história da terra. Representam a maneira como a rocha se forma, o clima naquele tempo, os seres vivos que lá estão dentro indicam a idade das rochas, em que ambiente viveram, etc..


Podemos então, através dos calhaus, fazer a reconstituição da história da terra, aquilo a que corresponde, rudimentarmente, a uma viagem no tempo. Portanto, é injustificável que na cultura básica de um cidadão não estejam incluídos os rudimentos da compreensão do seu planeta, e que a ciência que nos dá a compreensão do nosso planeta e dos processos terrestres esteja a ser marginalizada.


Algumas experiências que têm sido realizadas no âmbito da divulgação da geologia, para pessoas que não sabem nada sobre geologia, têm tido um impacto significativo, porque se formos capazes de mostrar o aliciante do interesse da geologia, as pessoas ficam encantadas e passam do estado de indiferença para o estado de uma aderência extraordinária.

A chave do problema é saber transmitir, ensinar, ter uma atitude pedagógica face à geologia.

 

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