Está em curso a elaboração da primeira Lista Vermelha das plantas vasculares de Portugal continental

Sociedade Portuguesa de Botânica (15-12-2017)
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A Sociedade Portuguesa de Botânica e a Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação - PHYTOS, em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, estão a desenvolver o projeto ‘Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental’, que permitirá sinalizar as plantas mais ameaçadas em Portugal continental.

O projeto ‘Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental’, que teve início em outubro de 2016 e decorrerá até setembro de 2018, pretende melhorar o conhecimento da distribuição geográfica das plantas vasculares nativas de Portugal Continental e avaliar o seu risco de extinção segundo os critérios da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

Após o primeiro ano de trabalho, a equipa de botânicos do projeto reencontrou três espécies de plantas que se pensava estarem extintas em Portugal, duas das quais não eram observadas há cerca de 50 anos. É o caso de Klasea pinnatifida, uma planta que foi reencontrada nos solos calcários do Alto Alentejo. A equipa descobriu ainda quatro espécies que nunca tinham sido observadas em Portugal, muito raras tanto no nosso país como em Espanha. De entre elas, destacam-se Anchusa puechii, uma espécie que ocorre nos cada vez mais ameaçados olivais de sequeiro do Baixo Alentejo, e Orobanche schultzii, uma planta que parasita o funcho selvagem e que foi descoberta nos arredores de Lisboa. Durante o último ano, a equipa registou também novos locais de ocorrência de algumas espécies que apresentam áreas de distribuição muito restritas em Portugal. É o caso de Lycopodiella inundata (licopódio-dos-brejos) e Succisella carvalhoana, duas plantas que habitam sítios húmidos e encharcados no norte do país, e cuja presença foi registada a mais de 150 km de distância das populações portuguesas anteriormente conhecidas.

Orobanche schultzii
Orobanche schultzii, uma espécie recentemente descoberta em Portugal, conhecida somente num único local nos arredores de Lisboa, onde ocorrem apenas algumas dezenas de indivíduos (foto: Miguel Porto).

Mas nem tudo são boas notícias pois, apesar dos esforços de prospeção da equipa, duas espécies da lista de plantas-alvo do projeto – Avellara fistulosa e Marsilea quadrifolia (trevo-de-quatro-folhas) – não foram por enquanto encontradas nos seus locais de ocorrência histórica, estando muito possivelmente extintas em Portugal. Também várias outras espécies mostraram declínios acentuados nas suas populações devido a ameaças como a agricultura intensiva em larga escala e a urbanização do litoral do país. São exemplos Apium repens, uma espécie extremamente rara que vive em locais húmidos na Costa Sudoeste, Linaria ricardoi, um endemismo português que ocorre exclusivamente nas searas e nos olivais de sequeiro do Baixo Alentejo, e Tuberaria globulariifolia var. major (alcar-do-Algarve), uma planta também endémica de Portugal que vive apenas em locais soalheiros sobre os solos ácidos e pedregosos do litoral do Sotavento Algarvio.

As Listas Vermelhas de Espécies Ameaçadas da UICN têm vindo a desempenhar um papel muito importante na orientação de ações de conservação da biodiversidade por parte de governos, organizações não governamentais e instituições científicas, por disponibilizarem informações sobre a distribuição geográfica, a tendência populacional e as ameaças que recaem sobre as espécies, e por seguirem uma abordagem científica rigorosa na avaliação do estado de conservação de espécies vegetais e animais, às escalas global, nacional e regional.

Linaria ricardoi
Linaria ricardoi, uma planta endémica dos olivais de sequeiro do Baixo Alentejo, muito ameaçada na atualidade pela destruição dos olivais de gestão tradicional devido à sua substituição por olivais intensivos de regadio (foto: Miguel Porto).

Desde 1990 que Portugal dispõe de Livros Vermelhos das espécies da fauna de vertebrados, cuja revisão deu origem, em 2005, ao Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. No que respeita à flora, só recentemente foi avaliado o risco de extinção dos musgos, hepáticas e antóceros – plantas não vasculares que formam o grupo dos briófitos –, tendo sido publicado, em 2013, o Atlas e Livro Vermelho dos Briófitos Ameaçados de Portugal. No entanto, estavam ainda por avaliar todas as restantes plantas – as plantas vasculares – que são aproximadamente 3000 espécies em Portugal continental e que representam a maior componente da flora nacional. A elaboração da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal continental é, por isso, um projeto de enorme relevância para o futuro da conservação da biodiversidade a nível nacional.

Este projeto conta com a participação de vários botânicos do país, que têm prospetado o território de norte a sul, bem como de muitos voluntários que se têm vindo a juntar à equipa. É de realçar também o apoio de vários Herbários e de todos os colaboradores do portal Flora-On, que disponibilizaram um grande volume de dados sobre a distribuição de inúmeras espécies nativas de Portugal continental.

E o público também pode ajudar! Está neste momento a decorrer uma campanha de apadrinhamento de plantas-alvo do projeto, dedicada às espécies que florescem no outono-inverno (consultar o sítio da SPBotânica em http://spbotanica.pt/#apadrinhe para saber como participar). Os donativos angariados nesta campanha ajudarão a suportar os trabalhos de prospeção dessas plantas no campo.

O projeto ‘Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental’ é cofinanciado pelo Fundo de Coesão da União Europeia através do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR-03-2215-FC-000013) e pelo Fundo Ambiental. O seu desenvolvimento pode ser acompanhado através do portal público do projeto em http://listavermelha-flora.pt/ ou no Facebook em https://www.facebook.com/ListaVermelhaFloraPT/.


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