Importância de vertentes com diferentes orientações para a comunidade de anfíbios da Herdade da Ribeira Abaixo (Serra de Grândola)

Rui Braz e Rui Rebelo
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As abundâncias de Alytes cisternasii e de Salamandra salamandra foram significativamente maiores em zonas de montado e mostraram diferenças entre estações do ano (maiores no Outono e na Primavera, respectivamente). Em relação a T. Boscai e T. Marmoratus não houve diferenças na abundância entre habitats, nem entre estações do ano. Não houve também correlações significativas entre as abundâncias das espécies de anfíbios e a abundância ou biomassa de artrópodes.

Visto que não existem estimativas do efectivo populacional de nenhuma das espécies de anfíbios presentes na HRA, não foi possível quantificar o sucesso do método de captura usado neste trabalho. No entanto, 5 das espécies - Bufo bufo, Bufo calamita, Discoglossus galganoi, Pelodytes punctatus e Pleurodeles waltl - mostraram índices de captura muito baixos. Outras não foram sequer capturadas, embora tivessem sido observadas na área de estudo: Rana perezi e Hyla meridionalis. Estas dificuldades poderão estar relacionadas com características morfológicas e comportamentais das espécies. Os anuros com grande capacidade de salto ou arborícolas (e.g. Rana sp., Discoglossus sp. e Hyla sp.) são mais difíceis de capturar que as espécies terrestres sem essas capacidades (e.g. Bufo sp. e Alytes sp.). O uso simultâneo de vários tipos de armadilhas pode reduzir os problemas de selectividade que este método apresenta.

Amostraram-se, ainda, secções de ribeira adjacentes aos habitats amostrados por DFs e, em geral, capturou-se maior número de espécies nas DFs do que nas secções de ribeira amostradas.


O período em que decorreu o estudo (Outubro de 1999 a Junho de 2000) foi pouco característico em termos climáticos. Apesar da taxa de precipitação ter sido baixa no Inverno, os anfíbios reproduziram-se durante esta estação do ano. Aparentemente, os anfíbios da Herdade reproduzem-se desde que existam condições mínimas para o fazerem. A precipitação elevada durante a Primavera levou ao enchimento das ribeiras e outros corpos de água, oferecendo mais uma oportunidade para os anfíbios se reproduzirem, embora desta vez as abundâncias verificadas tenham sido baixas, provavelmente devido ao investimento que já haviam feito durante o Inverno. Apesar dos períodos de reprodução estarem repartidos, cada um deles apresenta durações muito curtas, o que é característico em áreas situadas em regiões temperadas, tais como os habitats mediterrânicos (Salvador e Carrascal, 1990).

Esperava-se que as capturas fossem mais elevadas nas vertentes mais húmidas, como já foi descrito em estudos similares (Preest et al., 1992; Civantos et al., 1999), o que não se verificou. As maiores abundâncias observaram-se antes nos conjuntos de DFs situados em áreas de montado com sub-coberto, em especial nas que se encontravam próximas da galeria ripícola.

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