Picadas e mordeduras de animais - como prevenir e tratar

Jorge Nunes (texto e fotografia)
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Peixes-aranha, rascassos e outros animais marinhos
 Os perigos de mordeduras e picadas provocadas por animais não acontecem apenas em terra firme. Dentro de água, nomeadamente no mar, corre-se sempre o risco de pisar onde não se devia. No litoral português não se encontram animais verdadeiramente perigosos, no entanto, as picadas dolorosas dos peixes-aranha, dos rascassos, dos ouriços-do-mar, das alforrecas, das moreias e das raias (estes últimos só constituem uma preocupação para os mergulhadores) podem exigir acompanhamento médico.

 Apesar da orla marítima não apresentar grande perigo, convém verificar onde põe os pés, designadamente em poças de água das zonas rochosas (onde se podem abrigar os ouriços-do-mar e os rascassos), evitar tocar em massas gelatinosas que podem conter alforrecas ou partes dos seus tentáculos e, em zonas onde sejam comuns as picadas de peixes-aranha, utilizar sandálias de plástico para evitar ser picado, uma vez que, neste caso, é impossível ver ou prever onde se esconde um eventual peixe.

 Quer os rascassos quer os peixes-aranha possuem espinhos venenosos nas suas barbatanas dorsais. Curiosamente as suas picadas não resultam do seu ataque, mas de serem pisados inadvertidamente. Os peixes-aranha surgem principalmente em praias arenosas, em águas pouco profundas, enterrados na areia. Picam, geralmente, nos pés quando são pisados e em casos muito excepcionais no abdómen das crianças, quando estas se deitam na água para chapinhar em pequenas poças de água. Os rascassos, por seu lado, são habitantes característicos das zonas rochosas, surgindo dissimulados entre a vegetação que atapeta as rochas imersas e as poças de água na maré baixa.

Para aliviar a dor provocada pela picada dos peixes-aranha pode recorrer-se ao calor, por imersão do membro afectado em água quente. É recomendável o uso de analgésicos e de anti sépticos.

Os crustáceos (caranguejos e afins) e polvos, podem também infligir mordeduras. Os ouriços-do-mar, completamente revestidos de espinhos, criam algumas situações muito desagradáveis a quem os pisa inadvertidamente. São necessárias longas horas de pinça na mão para se retirarem todos os espinhos. A aplicação local de vinagre dissolve os espinhos, o que poderá tornar este tratamento menos moroso.

As alforrecas e as caravelas-portuguesas constituem autênticas fortalezas revestidas pelos nematocistos (aparelhos de injecção de veneno). Tratam-se de colónias de animais, de aspecto gelatinoso, com forma semelhante a guarda-chuva, ou seja, com uma umbrela que serve de flutuador e a partir da qual pendem tentáculos em número e comprimento variável, consoante a espécie. Convém lembrar que mesmo depois de estarem nos areais inteiras ou fragmentadas, os fragmentos de tentáculos mantêm as suas capacidades urticantes e são tão perigosos quanto o indivíduo inteiro, pois os nematocistos permanecem activos durante muito tempo após a morte. Daí que, geralmente, os encontros inadvertidos com estes animais aconteçam nas praias quando tocamos ou pisamos as massas gelatinosas constituídas pelas alforrecas ou partes delas. O contacto com as alforrecas provoca geralmente dor, edema local, cãibras musculares e queimaduras dolorosas, de segundo grau, deixando flictenas (vesículas com líquido que caracterizam as queimaduras de 2º grau) na pele humana. O contacto com as alforrecas pode ser especialmente perigoso quando a vítima está a nadar num local sem pé, uma vez que a picada provoca uma sensação muito dolorosa de descarga eléctrica o que pode levar o nadador a entrar em pânico provocando afogamento. As lesões provocadas pelas vesículas saram em dois ou três dias, porém, nos casos mais graves, é possível que permaneçam cicatrizes por mais de um ano. Os sintomas são dor aguda, imediata e prurido persistente, apresentando como lesões os eritemas e as queimaduras, devendo proceder-se à remoção imediata dos fragmentos de tentáculos que fiquem presos à pele e ao tratamento, tão breve quanto possível, que consiste na aplicação de analgésico e anti-inflamatório sistémicos e na utilização local de creme gordo.

Informação útil:
Relembramos que para quaisquer esclarecimentos sobre picadas e mordeduras de animais poderá contactar o Centro de Informação Antivenenos disponível 24 horas por dia, através do telefone 808 250 143 ou do número nacional de socorro 112.

 

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