Picadas e mordeduras de animais - como prevenir e tratar

Jorge Nunes (texto e fotografia)
Imprimir
Texto A A A


Cobras e víboras
Das dez espécies de ofídios (cobras e víboras) existentes no nosso País apenas quatro merecem a nossa atenção. A principal razão para esta diminuta perigosidade dos ofídios portugueses explica-se pela ausência de dentes inoculadores de veneno, o que acontece com seis das espécies. Realmente, apenas quatro ofídios da fauna portuguesa têm capacidade de inocular veneno, dos quais dois (a cobra-rateira e a cobra-de-capuz), embora venenosos, não representam grande perigo devido aos seus dentes inoculadores de veneno se localizarem na região posterior dos maxilares superiores (só inoculando veneno ao engolir a presa). Assim, na realidade, restam apenas as duas espécies de víboras (a víbora-cornuda e a víbora-de-Seoane), uma vez que os seus dentes inoculadores de veneno são bastante eficazes na sua função tendo em conta que se localizam na região anterior dos maxilares superiores.

 Apesar da perigosidade da mordedura das víboras, convém lembrar que são répteis habitualmente pacíficos e que facilmente se distinguem das outras serpentes: possuem a cabeça triangular bem diferenciada do pescoço, a pupila vertical, a ausência de placas cefálicas (escamas de grandes dimensões presentes na parte superior da cabeça), uma linha dorsal escura em ziguezague, comprimento inferior a 70 cm, corpo robusto e cauda curta. Caso se cruze com algum réptil com estas característica, deve afastar-se para uma distância segura, por nenhum motivo deve tentar capturar o animal, ou pior ainda, matá-lo. Lembre-se que essa visão fugaz é um prémio da natureza, pois as víboras são animais raros e devem merecer o nosso respeito e protecção, pois só atacam e mordem se forem incomodadas.

 As víboras têm uma esparsa distribuição geográfica e surgem geralmente em terrenos rochosos e montanhosos, sendo a víbora-de-Seoane exclusiva de algumas regiões do Parque Nacional da Peneda-Gerês. As mordeduras dos ofídios ocorrem geralmente nos membros inferiores, pelo que é aconselhável, em zonas rochosas e montanhosas, utilizar calçado protector e calças grossas de modo evitar mordeduras acidentais.

Após a mordedura, o primeiro sintoma é a dor local, de início súbito e intensidade variável. O edema inicia-se rápida e progressivamente durante as 24 horas seguintes. Os sintomas gerais são habitualmente moderados: ansiedade, hipotensão, hipertermia, dores abdominais, náuseas, vómitos, diarreia nos casos mais graves e ocasionais alterações cardíacas. A evolução é habitualmente benigna, embora possa haver necrose da zona mordida e o edema possa demorar várias semanas a ser reabsorvido. A mordedura torna-se muito perigosa e preocupante se a vítima for uma criança ou se ocorrer em zonas do corpo mais sensíveis como o rosto e o pescoço. Nestes casos, o quadro clínico pode incluir diversas complicações.
 
Como tratamento inicial sugere-se o posicionamento da vítima em repouso, a lavagem imediata da ferida com água e a aplicação de gelo no local da mordedura para acalmar a dor. Uma das medidas clássicas é a colocação de um garrote próximo da mordedura, embora exista ainda alguma controvérsia sobre a eficácia desta prática. Após estes cuidados iniciais, deve providenciar-se o tratamento hospitalar, com a maior brevidade possível.

 Embora as pessoas em geral nutram pouca simpatia por estes magníficos animais rastejantes, convém dizer que os ofídios tudo farão para evitarem cruzar-se connosco. No entanto, dada a coabitação de algumas espécies com as construções humanas, é natural que ocorram alguns encontros inusitados, que se forem aproveitados para admirar a beleza destes animais, a distância segura, só deixarão boas recordações.

Comentários

Newsletter