A luta pela sobrevivência

Alexandre Vaz
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 Outros animais, não sendo particularmente discretos, nem tendo nenhuma estrutura eficaz como protecção, evoluíram num outro sentido: estão dotados de substâncias químicas, como venenos, ou substâncias urticantes e odoríficas, que os tornam perigosos, ou pelo menos desagradáveis, para potenciais atacantes. O veneno das cobras, para além de ser uma ferramenta para a caça, é também um importante instrumento de defesa. Alguns peixes, celentrados, insectos, aracnídeos e batráquios possuem venenos poderosos e até mesmo alguns mamíferos, como as doninhas fedorentas, segregam substâncias odoríficas, capazes de dissuadir o predador mais esfomeado.

Ao contrário dos animais que confiam o fundamental da sua defesa ao mimetismo, os animais dotados de veneno, apresentam frequentemente padrões de coloração particularmente visíveis e até berrantes, como que para avisar os predadores que estão perante uma presa que não convém importunar. Mais curioso ainda, é o facto de existir um outro grupo de animais que, não possuindo essas substâncias, evoluiu no sentido de se assemelhar a estes, por forma a beneficiar da sua reputação. São exemplos diversas espécies de moscas que se assemelham a abelhas ou de cobras pacíficas que dificilmente se destinguem de outras altamente venenosas.

Face aos conflitos interespecíficos, os animais respondem ainda com variados padrões de comportamento que os ajudam a superar essas dificuldades. Há animais que enfolam o pêlo, ou as penas para parecerem maiores, outros simulam estar mortos. Durante a época de reprodução, varias espécies de aves, fazem à presença de uma potencial ameaça, simulações de uma má condição física para distraírem o intruso dos seus ovos ou crias. Muitas espécies, são gregárias, e com isso conseguem dificultar ao predador a tarefa de seleccionar uma presa, quer seja no meio de um cardume, de um bando ou de uma manada. Por outro lado, quando em conjunto, basta que pelo menos um indivíduo esteja alerta para que todos os outros beneficiem. Tanto mais que, por exemplo, nas aves os chamamentos de alerta atravessam transversalmente mais do que uma espécie. Aquilo que faz com que um indivíduo se preocupe em avisar os demais da sua e outras espécies ainda não é totalmente claro, mas supõe-se que, em última instância este esteja interessado em alertar os outros, para distrair a atenção do predador de si mesmo. 

 Outra resposta complexa como fuga à predação, passa pela sincronização das épocas de reprodução dentro de uma mesma espécie. Os gnus, em África, constituem a principal presa de diversas espécies de predadores, mas ao sincronizarem a sua reprodução, não só estão a responder ao período de maior abundância de alimento, como também ultrapassam em muito, durante aquele espaço de tempo, a capacidade dos predadores de subtrair presas.

Numa visão antropomórfica do mundo natural, as pessoas atribuem frequentemente às presas o papel de vítimas e aos predadores o papel de vilões. Na verdade, ambos fazem parte de um intrincado e complexo equilíbrio, em que a vida não é fácil para nenhum dos dois.

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