Tubarão, um senhor dos mares ameaçado

Maria Carlos Reis
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Estas mortes têm um impacto bastante relevante nos ecossistemas oceânicos e são responsáveis pelo desequilíbrio das cadeias alimentares de que os tubarões fazem parte, uma vez que a maioria das espécies são predadoras de topo. É por este motivo que conseguem regular o balanço entre as diferentes espécies marinhas. Quando estes predadores são removidos, espécies comercialmente importantes podem entrar em competição com espécies de menor interesse, que anteriormente eram por eles controladas. Um outro aspecto negativo da alteração da estrutura dos ecossistemas marinhos pode ser demonstrado pelo que aconteceu na Austrália, há alguns anos atrás. A pesca excessiva do tubarão desencadeou um crescimento explosivo da população de polvos, o que não parece ser muito grave, já que o polvo é um molusco muito apreciado. O problema é que o aumento da população de polvo provocou uma diminuição acentuada nas populações das suas presas, o que já é extremamente preocupante em termos económicos, quando estamos a falar de lagostas!

Por outro lado, os tubarões não predam indiscriminadamente, mas realizam uma selecção relativamente ao tipo, ao tamanho e ao estado de saúde das presas. Deste modo, são responsáveis pela remoção dos animais mais fracos e debilitados do ecossistema, actuando como uma ferramenta da selecção natural, impelindo a evolução a continuar o seu curso.

Em Abril deste ano, realizou-se a XI Conferência da CITES em Nairobi, no Quénia, onde 150 países discutiram quais as espécies ameaçadas do mundo que precisam de maior protecção. A tentativa por parte de organizações ambientalistas e de alguns governos de colocar certas espécies de tubarões (nomeadamente o Tubarão Baleia e o Tubarão Branco) no anexo II da Convenção, que impõe restrições ao seu comércio, revelou-se infrutífera, pois não se atingiram os dois terços necessários para a aprovação desta medida.

Para além da necessidade de travar a comercialização não controlada, a desmistificação do tubarão "caçador-de-homens" é fundamental para a sua conservação. Esta visão universal e simplista está a ser, lentamente, substituída por uma visão mais equilibrada e racional do papel que este animal desempenha nos ecossistemas dos quais faz parte e do balanço entre prejuízos/benefícios que pode causar.

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