Gestão florestal e a conservação das comunidades de vertebrados

Paulo Pinheiro
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Existe uma forte correlação entre a idade das árvores e a formação de cavidades – sobretudo no caso das folhosas –, que são utilizadas pela fauna bravia. Estas estruturas dependem da condução a que o povoamento se encontre submetido, uma vez que a extracção intensiva de madeira tende a minimizar o número árvores decrépitas, mortas ou já com cavidades, retirando-as no decurso das operações de desbaste. As cavidades podem ser favorecidas quando permanece arvoredo mais susceptível à formação destas estruturas, como o sejam árvores maduras com defeitos, ou que tenham sofrido damos devido a agentes bióticos e físicos. Alternativamente, é possível induzir a formação deste tipo de estruturas deixando cepos em pé, decapitando algumas árvores, ou matando-as por supressão de um anel de casca, com herbicidas ou através de inoculações com fungos. A existência nos povoamentos de árvores com estas particularidades acarreta alguns riscos, nomeadamente o serem focos de infecção relativamente a pragas de insectos – sobretudo sub-corticais – ou a doenças criptogâmicas, isto para além de acrescerem o risco de incêndio. Do conjunto de situações registadas, o caso mais problemático é o das pragas, sendo possível minimizar este risco com a introdução de folhosas em povoamentos de resinosas, uma vez que as pragas das primeiras não constituem perigo para as coníferas.

Para superar a limitação da escassez de cavidades para nidificação, pode igualmente optar-se pela colocação de ninhos ou abrigos artificiais. Os modelos e as dimensões variam consoante as espécies alvo (avifauna e quirópteros cavernícolas), devendo ser colocados com a entrada virada para baixo, de forma a evitar a entrada de chuva, e orientados na direcção contrária à dos ventos dominantes. Como é uma medida bastante onerosa deve ser aplicada pontualmente, sobretudo nas fases jovens das plantações.

Os métodos tradicionais de gestão silvícola reduzem consideravelmente a disponibilidade ao nível do solo de troncos, toros e outros resíduos lenhosos, facto que limita a disponibilidade de locais de abrigo sobretudo para a herpetofauna e para os pequenos mamíferos. É igualmente importante que não seja retirada a folhada, porque além da restituição de nutrientes ao solo é colonizada por uma grande diversidade de invertebrados e fungos, sendo que os primeiros constituem a base de muitas cadeias alimentares, atraindo taxa de níveis tróficos superiores. Tal como no caso das árvores mortas e/ou com cavidades, é necessário conciliar a disponibilidade deste tipo de estruturas com o risco de incêndio e de pragas que se encontra associado.

As técnicas de exploração florestal como os desbastes, limpezas e desramações, podem induzir a formação de estruturas irregulares, o que favorece a diversidade faunística. Estas intervenções, ao criarem condições para abertura de clareiras nos povoamentos, apresentam um efeito semelhante à abertura natural do copado; paralelamente, disponibilizam maiores quantidades de alimento aos mamíferos herbívoros.

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