Gestão florestal e a conservação das comunidades de vertebrados

Paulo Pinheiro
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As principais variáveis a considerar nas intervenções silvícolas ao nível do povoamento são: o tipo de corte de realização, a estrutura, a composição e densidade, as espécies arbóreas, a existência de material lenhoso morto em pé e/ou no solo, as práticas culturais, a vegetação herbácea e arbustiva, e ainda a preparação do terreno.

A utilização das diferentes modalidades de cortes de realização pode influenciar a fauna bravia. Preferencialmente, deve optar-se por cortes salteados ou sucessivos em relação aos rasos, pois estes últimos ao eliminarem completamente o arvoredo apresentam maiores impactes nas zoocenoses. Uma excepção pode ocorrer no caso das aves de rapina e de alguns mamíferos carnívoros, que beneficiam de cortes rasos em extensões inferiores a 40 ha, uma vez que a abertura de clareiras temporárias promove a diversidade de biótopos, ao criarem um mosaico equilibrado com diversos estádios de desenvolvimento. Os cortes salteados por pés ou grupos de árvores ao facilitarem o estabelecimento de estruturas jardinadas – árvores de todas as classes de idade –, é claramente o sistema de condução dos povoamentos que menos impactes negativos acarreta para diversidade faunística. Quando não for possível aplicar esta modalidade de cortes de assentamento, é desejável optar-se pelos sucessivos em faixas ou manchas, de forma a manter os povoamentos com uma estrutura irregular, que ao serem constituídos por árvores de diversas idades apresentam uma maior variedade de nichos face aos povoamentos regulares.

No que concerne às espécies lenhosas ao nível do povoamento, é reconhecido que quanto maior for a sua diversidade, mais elevada é a riqueza ornitológica; é também de assinalar que geralmente as folhosas apresentam uma maior diversidade de recursos para as comunidades faunísticas. Assim, no decurso da gestão dos povoamentos florestais, é desejável que estes sejam constituídos por folhosas e resinosas – povoamentos mistos –, considerando igualmente um princípio básico da silvicultura, que é a utilização de espécies arbóreas que estejam perfeitamente adaptadas às condições da estação. Em Portugal, as áreas florestais produtivas são constituídas maioritariamente por monoculturas de pinheiro bravo (Pinus pinaster) e de eucalipto (Eucalyptus globulus), sendo que a introdução algumas espécies de folhosas autóctones – essencialmente quercíneas –, em manchas ou dispersas pelo povoamento, é uma medida que pode fomentar a diversidade faunística nos pinhais; alternativamente, pode ser seguida uma outra metodologia que consiste na não remoção de indivíduos destes taxa, que nasçam no sub-bosque. No que concerne aos eucaliptais, é desejável a manutenção de sobreiros, azinheiras ou outras folhosas que se desenvolvam no sub-bosque. Neste item, regista-se um facto relacionado com as espécies arbóreas exóticas, que tradicionalmente são apontadas como causando grandes impactes nas zoocenoses, contudo, o factor mais limitativo é o tipo de silvicultura aplicada, e não o serem taxa exóticos.

Para elevar a diversidade da fauna bravia nos povoamentos a corte, é desejável que sejam conservadas algumas árvores que já tenham atingido a idade de exploração, sobretudo as que possuam menor valor comercial – e.g., que apresentem defeitos –, de forma a promover a diversidade estrutural. O número de árvores a permanecer é uma temática que tem gerado grande discussão, variando muito com as espécies lenhosas em causa, e também com as comunidades alvo.

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