Compostas

Miguel Porto
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Nos calcários a norte do Tejo surge uma planta estranha, de grandes e vistosas flores amarelas, à qual foi atribuída uma subespécie própria – Senecio doronicum subsp. lusitanicus. A subespécie irmã S. doronicum subsp. doronicum, que não existe em Portugal, é uma planta alpina que habita nas montanhas da Europa em geral, nomeadamente nos Alpes. No entanto, apesar de em Portugal as serras calcárias não chegarem aos 700 m de altitude, esta planta está cá e é apenas ligeiramente diferente da sua congénere, pelo que se considera apenas como subespécie, neste caso endémica. A sua ocorrência é francamente pontual, principalmente na região a norte de Lisboa, e geralmente nas cumeadas mais altas e expostas. Embora apareça em núcleos com um razoável número de indivíduos, é muito rara no global, e pode-se considerar que esteja em perigo de se extinguir.

Na mesma onda de pensamento, há uma outra espécie tão ou mais rara que a anterior, igualmente alpina mas que não especiou em Portugal, sendo a mesma que actualmente se encontra nas montanhas da Europa – Inula montana. A ocorrência em Portugal limita-se a alguns núcleos muito pequenos na área do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, bem como alguns núcleos em Trás-os-Montes, estando, no geral, em vias de desaparecer do nosso país. 

Senecio doronicum subsp. lusitanicus, uma composta raríssima que ocorre em alguns cabeços calcários.

Esquecendo as espécies de montanha, que foram aqui apenas ligeiramente abordadas, temos também outro tipo de raridades. Leuzea longifolia é um endemismo português considerado em perigo de extinção, e é uma das plantas mais raras de Portugal. Ecologicamente tem preferências por um habitat que está praticamente todo convertido em eucaliptal na região geográfica que a espécie ocupa, sobrevivendo ainda nalguns locais muito pontuais, todos na região de Leiria e um pouco mais a sul. Tal como I. montana, conhecem-se apenas alguns núcleos desta planta, geograficamente afastados, portanto, isolados biologicamente. Cada núcleo é composto por um número muito reduzido de indivíduos, o que, a juntar ao isolamento e à perturbação a que o homem os sujeita, contribui decisivamente para a vulnerabilidade desta planta.

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