Compostas

Miguel Porto
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Em Portugal continental pode-se afirmar que são quase todas ervas, frequentemente anuais, ocorrendo algumas espécies de porte subarbustivo ou arbustivo, como as perpétuas-das-areias (Helichrysum spp.) facilmente observáveis em dunas bem conservadas, estevais e outros matos; e a Stahelina dubia, das encostas calcárias muito quentes e secas.

O que faz as compostas tão especiais?

Como já foi ligeiramente abordado, as compostas têm um arranjo floral distintivo, quase único, e que é o elo comum a todas as espécies desta família – o capítulo. O capítulo é um tipo de inflorescência que se caracteriza, em linhas gerais, por apresentar muitas flores reduzidas agrupadas de uma forma muito compacta directamente sobre um disco (receptáculo). As flores periféricas deste disco frequentemente apresentam um prolongamento unilateral (lígula), o que, no conjunto, dá o aspecto semelhante a uma flor “normal”. Dado que o número de flores na periferia é variável, o número de “pétalas” (lígulas) também o é, o que muito raramente acontece em outras famílias.

Toda esta estrutura está envolvida por brácteas (folhas modificadas com função de protecção) que aqui exercem uma função análoga às sépalas das flores “normais”.

 

Esquema geral de um capítulo, em dois estádios do desenvolvimento – em flor (na ântese) e aquando da maturação dos frutos. O esquema foi inspirado nas características de várias espécies, para mostrar um pouco da variação que pode haver. As flores e frutos foram desenhados afastados para melhor compreensão; na realidade, estes encontram-se dispostos de forma compacta.

O capítulo, então, assemelha-se em forma e função a uma só flor, no entanto, é constituído por um agregado de inúmeras pequenas flores, em que geralmente as externas se tornam vistosas pelo desenvolvimento da lígula, e as internas são pequenas e pouco vistosas. Esta estratégia, que basicamente é uma divisão de tarefas, reduz o investimento necessário para a atracção dos polinizadores, pois apenas uma pequena porção das flores é que produz uma “pétala”, beneficiando todas as outras desse esforço. Muitas plantas usam estratégias deste tipo, desde a mais simples que consiste simplesmente em agrupar as flores em conjuntos – chamados inflorescências – até às mais complexas como é o caso das compostas, que a levaram ao extremo da especialização. Na família distante das crucíferas (Brassicaceae), as plantas do género Iberis são um exemplo de uma forma menos especializada de atingir o mesmo objectivo com uma estratégia similar às compostas – as flores periféricas da inflorescência têm as suas duas pétalas exteriores marcadamente mais desenvolvidas que as restantes, porém, não havendo uma diferenciação morfológica muito abrupta entre as flores periféricas e as centrais.

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