Os Cetáceos foram o único grupo de mamíferos a adaptar-se a um estilo de vida totalmente aquático. Recentemente foram descobertos vários fósseis que documentam este processo evolutivo, tornando-o num exemplo clássico da evolução em curso.
Introdução
Ao longo das eras geológicas, a evolução foi promovendo alterações drásticas que desafiaram o entendimento humano e por vezes geraram grandes controvérsias relativamente à sua possibilidade. Dois exemplos são: o desenvolvimento de membros articulados a partir de barbatanas musculadas nos tetrápodes do Devónico; e mais recentemente, o desenvolvimento de uma locomoção bípede numa linhagem de primatas quadrúpedes no final do Miocénico. Estas alterações permitiram aos grupos biológicos onde elas ocorreram ocupar nichos ecológicos até então inexplorados, e assim garantir o seu lugar actual na árvore da vida. No entanto, uma das transições mais drásticas da história da evolução, parece ter ocorrido como resposta à (re)ocupação de um ambiente “ancestral”... o mar.
Os pensadores e naturalistas da história rapidamente perceberam que os Cetáceos apresentavam uma maior afinidade com animais terrestres como os mamíferos do que com os peixes. Afinal de contas, respiravam oxigénio atmosférico através de estruturas que eram claramente pulmões, além de que bebiam leite na infância e tinham “sangue quente”. No entanto, a noção de que estes animais teriam a sua origem em antepassados inteiramente terrestres permaneceu controversa durante bastante tempo. Quando Darwin (1895) defendeu (com objectivos puramente argumentativos) que ursos que tivessem o hábito de se alimentar de insectos aquáticos (como foi de facto observado) poderiam com o tempo originar um animal como uma baleia, foi bastante criticado por diversas frentes, de tal forma que reformulou a sua argumentação em edições posteriores do seu livro. Ainda hoje, os cetáceos são usados pelo movimento creaceonista americano como prova de que a evolução não é possível. No entanto, nos últimos anos têm sido descobertos vários fósseis de transição que confirmam a origem terrestre dos cetáceos, tornando este grupo num exemplo clássico das modificações que grandes grupos de organismos podem sofrer ao longo da sua evolução.