A odisseia das sementes

Maria Carlos Reis
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As sementes são os agentes de reprodução de um enorme número de plantas. No seu processo de dispersão e posterior desenvolvimento, fazem longas viagens, enfrentam grandes riscos e sabem esperar, por vezes séculos, pelo momento adequado de germinação.

As sementes produzidas por uma planta devem ser encaradas, não só como os seus agentes da reprodução, mas também como os veículos que tem à disposição para a colonização de novos espaços, de modo a alargar o domínio da espécie a que pertence.

Para esta última função, cada semente está equipada com uma reserva nutritiva suficiente para sustentar a nova planta durante os seus primeiros estádios de crescimento, até que atinja autonomia em termos de produção fotossintética. Extraordinário é o facto de todas estas reservas poderem estar contidas num grão, que pode ser mais pequeno do que um simples grão de areia.

As dimensões reduzidas podem constituir uma vantagem em termos de dispersão, mas mesmo assim, diversas plantas desenvolveram mecanismos que a complementam. É o caso do dente-de-leão, cujas sementes possuem um dispositivo de voo constituído por um minúsculo disco de fibras, que actua como um pára-quedas. As sementes encontram-se dispostas no topo de um caule para que qualquer sopro do vento ou de um criança, por mais delicado que seja, possa lançar no ar centenas de sementes, que se elevam bem alto no céu e que podem percorrer grandes distâncias.


Mas os métodos de dispersão que necessitam de uma "ajudinha" do vento não são muito eficazes no interior de estruturas fechadas, como um bosque. No entanto, as árvores podem explorar a sua altura, para garantirem que as sementes não caiam directamente no chão, junto dos progenitores. A Anisoptera, uma das árvores mais altas das florestas tropicais asiáticas, produz sementes com duas asas finas e de comprimentos diferentes. Esta assimetria faz com que a estrutura gire quando libertada, assemelhando-se a um pequeno helicóptero a rodopiar, o que lhe proporciona a possibilidade de viajar centenas de metros.

Apesar do vento ser o agente dispersor mais comum, algumas árvores enviam as suas sementes em verdadeiras cruzadas pelos mares. O exemplo mais famoso é o do coqueiro, que despacha a sua semente dentro de uma casca dura, contendo tudo o que será necessário durante uma longa viagem. É um verdadeiro kit de sobrevivência, incluindo reservas muito nutritivas e cerca de 2 dl de água. Tudo isto está envolvido por uma camada fibrosa que mantém o côco à superfície da água.

Para além do vento e da água, os animais são frequentemente utilizados como agentes dispersores por uma grande diversidade de plantas. Elas utilizam todos os meios ao seu alcance para estabelecerem os contratos de prestação de serviços com os animais: para além do normal pagamento pelos serviços prestados, recorrem a técnicas pouco éticas como a exploração e o suborno. Basta andarmos no meio de vegetação rasteira para descobrirmos que também nós podemos ser explorados. Tal acontece com os mamíferos, que transportam sementes presas por espinhos curvos e minúsculos, que se prendem aos seus pêlos.

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