Plantas Carnívoras em Portugal

Texto e Fotografia de Jorge Nunes
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Muitas pessoas têm acerca das plantas carnívoras as ideias mais bizarras. As plantas carnívoras reais estão muito longe de se confundirem com os monstros terríveis que surgem nos filmes de ficção científica... Vale a pena conhecê-las melhor.

Alguns dos relatos onde são descritas plantas carnívoras constituem autênticos desafios à imaginação humana. Estas surgem aos olhos dos leigos como verdadeiras aberrações da natureza, tendo sido consideradas durante séculos como resultado de um milagre da natureza. No entanto, a realidade fica muito aquém das narrativas épicas onde as plantas carnívoras são referidas como terríveis monstros que atraem as vítimas e se alimentam das suas entranhas. Na verdade, estas plantas são, na sua maioria, de porte herbáceo, raramente ultrapassando algumas dezenas de centímetros.

As plantas carnívoras foram descobertas e referenciadas pela primeira vez no séc. XVIII, mais precisamente em 1768, quando o botânico inglês J. Ellis chamou a atenção para o curioso processo de captura de insectos em Dionaea muscipula. Desde essa data, mais de seis centenas de espécies de plantas foram estudadas e adicionadas ao rol das consideradas carnívoras. Estas plantas constituem um grupo botânico sem qualquer significado taxonómico, dado que o carnivorismo nas plantas parece ter resultado de evolução convergente, ou seja, ao longo dos tempos a selecção natural foi favorecendo a sobrevivência de plantas oriundas de famílias diferentes, mas que conseguiam capturar e digerir pequenos animais.

 

Drosera intermedia

Apesar desta curiosa capacidade de se nutrir de animais, propriedade que era tida como exclusiva do reino animal, as plantas carnívoras mantêm todas as características de qualquer outro ser vivo do reino vegetal: são plantas verdes onde ocorre fotossíntese. Contudo, para assegurar a sua vitalidade e sobrevivência, estas plantas necessitam de completar o seu metabolismo com os aminoácidos resultantes da digestão de pequenos animais, que ocorre nas folhas, em zonas glandulares, caracterizadas por intensa actividade de enzimas proteases e fosfatases que digerem as presas. Vários estudos têm demonstrado que a nutrição heterotrófica aumenta o crescimento e desenvolvimento destas plantas e, em algumas espécies, parece ser essencial para que ocorra a floração, ou seja, a possibilidade de perpetuar a espécie. Por esta razão, o carnivorismo nas plantas é encarado como uma adaptação nutricional relacionada com os solos deficientes em azoto, como acontece com as zonas pantanosas e turfeiras onde ocorre a maioria das plantas carnívoras conhecidas.

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