O Rosmaninho em Portugal

Pedro Bingre
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Se gosta de caminhar pelo campo, certamente já teve o privilégio de encontrar campos pintados com o lilás do rosmaninho e perfumados pelo seu odor. Venha connosco numa visita guiada aos rosmaninhos de Portugal.

Quem percorrer os descampados ibéricos meridionais, a sul do Minho e da "Espanha verde" (nome dado às regiões setentrionais da Galiza, Astúrias, Cantábria, País Basco... onde o clima não é mediterrânico), durante os meses de Primavera e Verão, ficará com certeza encantado com os perfumes que lhes enriquecem os ares. E para chamar-lhes "perfumes" é dispensável ter um nariz muito apurado ou um sentido poético das coisas, pois os odores que as ervas e os arbustos que aí encontramos são de facto tão intensos, tão ricos e tão unanimemente apreciados que podemos, com objectividade, dar-lhes esse nome. É difícil percorrer as serras calcárias do Oeste estremenho português sem se cheirar o tomilho ou o alecrim; difícil passar um regato sem detectar o odor da hortelã ou do poejo; impossível correr o sul do Alentejo sem que os vapores da esteva nos acalmem; e muito improvável que nas caminhadas não topemos, mais cedo ou mais tarde, com alguma espécie de rosmaninho. Dizemos "alguma espécie" porque na verdade é possível encontrar cinco espécies de rosmaninho em Portugal, embora o vernáculo as reúna sob um único nome vulgar.

Segundo a nomenclatura empregue pela taxonomia botânica, todos os rosmaninhos pertencem ao género Lavandula L.. (Curiosamente, apesar de a nomenclatura botânica ser redigida em latim, e de o português ser uma língua neolatina, podemos verificar que o género Rosmarinus L., tão abundante em Portugal na espécie Rosmarinus officinalis L., recebeu o nome vernáculo de... alecrim, em lugar de rosmaninho!).

Os rosmaninhos portugueses são todos eles pequenos arbustos lenhosos, facilmente identificáveis pelo aroma (parecido, mas não muito, ao da alfazema da perfumaria) e pelas espigas violetas que coroam a pequena copa. Estas espigas, geralmente pequenas (2 a 8 cm), são compostas por pequenas flores tubulares e labiadas, aninhadas entre brácteas quase da mesma cor, estando o conjunto (no caso das espécies L. pedunculata (Miller) Cav., L. luisieri (Rozeira) Rivas-Martínez e L. viridisér.) completado por três longas brácteas petalóides violetas, lilazes ou brancas que enfeitam o topo da espiga em jeito de penacho (ver fotografia). Acham-se por quase todas as regiões do país, formando os matorrais que primeiro colonizam os terrenos privados de coberto arbóreo ou arbustivo alto; na Primavera chegam a tingir de violeta enormes extensões de incultos por todo o sul, interior e oeste portugueses. Em Trás-os-Montes, na Terra Quente, crescem acompanhados pela giesta-branca (Cytisus multiflorus (L'Hér.) Sweet) nos terrenos desnudados por incêndio ou intervenção humana, onde outrora cresceriam associações de sobreiros; na Beira interior acompanhados por tojo-gadanho (Genista falcata Brot.), nos antigos terrenos de carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.); no Oeste estremenho acompanhadas pelo tojo-durázio (Ulex jussiaei Webb) nos solos donde foi eliminado o carvalho-cerquinho (Quercus faginea Lam. ssp. broteroii (Coutinho) A. Camus); e em vários terrenos muito esqueléticos do interior de norte a sul, acompanhado pela roselha-maior (Cistus albidus L.) ou pela cebola-albarrã (Urginea maritima (L.) Baker), frequentemente nos antigos domínios da azinheira (Quercus rotundifolia Lam.).

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