A Comunicação entre os Animais

Alexandre Vaz
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Numa época em que somos quotidianamente surpreendidos por inovações na área das comunicações, vale a pena olhar com atenção para as formas de comunicação dos outros animais, tecnologicamente mais simples, mas nem sempre menos eficazes.

A comunicação pressupõe a existência de dois ou mais indivíduos, e acontece sempre que há troca de informação entre eles. A grande supremacia tecnológica do homem face aos outros seres vivos foi conquistada, em grande parte, através da sofisticação da sua comunicação. Com o advento da escrita, a comunicação prolonga-se muito para além do momento em que é proferida e a partir daí a acumulação e o desenvolvimento do conhecimento são feitos com uma eficácia sem precedentes.

Não obstante não existir nenhum outro animal com uma comunicação tão complexa quanto a nossa, há animais que possuem métodos de comunicação sofisticados e que perduram no tempo. Não será muito arriscado dizer que, das cerca de um milhão de espécies de animais descritas, quase todas, numa ou noutra fase da sua vida, necessitam de comunicar.

Existem alguns processos de comunicação tão óbvios que por vezes nos esquecemos deles mas, tal como nós, também muitos animais os utilizam. A simples aparência de um animal desempenha um importante papel na escolha de parceiro para acasalar ou no estabelecimento de hierarquias, em insectos, aves, mamíferos, moluscos e muitos outros animais. Apesar deste ser um assunto bastante estudado, ainda hoje permanecem por explicar alguns dos processos que levam à selecção de um parceiro.

Em muitos animais são os machos que competem para conseguirem uma fêmea para acasalar. Do seu poder de persuasão vai depender a capacidade de dissuadir outros machos de lhe fazerem frente e de seduzir a fêmea pretendida. Neste caminho vai haver, necessariamente, muita comunicação. A aparência de uma animal, como o brilho das suas penas, a cor do seu pêlo ou a dimensão das suas hastes, provavelmente não vai ter uma implicação directa na sua eficácia como progenitor, mas o seu aspecto físico é um reflexo da sua condição fisiológica. Os outros machos evitarão combater um aparentemente mais forte, poupando energias a ambos, e as fêmeas, sejam elas de uma pequena ave, de um veado ou de um primata, estão interessadas em acasalar com o macho mais apto que lhes for possível encontrar. Por isso, mesmo em muitas espécies em que os machos não lutam entre si, demonstrando a sua força, exibem perante a fêmeas a sua perícia a construir ninhos, a conseguir alimentos ou noutra actividade fundamental no decurso da reprodução. No fundo, o que eles de uma ou de outra forma estão a dizer é: “eu serei um bom pai para os teus filhos”.

Para além de depender de factores como a idade ou a condição física, a aparência dos animais varia muitas vezes com a sua vontade. Algumas das adaptações neste campo são surpreendentes; veja-se a cauda de um pavão aberta em leque, o papo de uma fragata, a tromba insuflável de uma foca de capuz, ou a velocidade com que uma lula pode fazer variar a cor da sua pele. A própria máscara facial, assim como a postura, desempenham nalguns animais um papel muito importante. Os lobos, por exemplo, que vivem em sociedades hierarquizadas e complexas, exprimem desta forma ritualizada a sua atitude dominadora ou submissa.

A linguagem gestual não está de forma alguma reservada aos animais superiores. As abelhas, no interior das suas colmeias, executam movimentos complexos, que lhes permitem comunicar pormenorizadamente, por exemplo, a localização de determinada zona onde existe alimento.

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