Alterações da paisagem de uma Região do Minho no Período 1958-1995 e seus Impactos na Diversidade de Aves: A Importância do Fogo

Francisco Moreira, Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves-ISA
Imprimir
Texto A A A

Os resultados podem ser vistos na Figura 1. Ao longo do primeiro eixo (na horizontal), parece existir um gradiente nas comunidades de aves desde os matos baixos (no lado direito), passando pelos matos altos e pelas zonas florestais (no extremo esquerdo). O segundo eixo (na vertical) separa essencialmente as zonas agrícolas dos restantes habitats. Pode também verificar-se que ocorrem espécies especialistas em todos os habitats excepto os matos altos. O que significam estes resultados? Que existem espécies associadas a todos os tipos de uso do solo (mesmo os que têm baixa diversidade como os matos) e, inclusivamente, várias espécies estão especializadas num dos habitats (excepção feita aos matos altos). Por exemplo, apesar de os matos baixos terem uma muito menor diversidade de aves que as áreas agrícolas, existem 3 espécies que foram observadas quase exclusivamente neste habitat (por exemplo, a felosa do mato - código Sunda). Por outro lado, vê-se perfeitamente a importância da manutenção das áreas agrícolas, ao mesmo tempo com uma grande diversidade de aves e com várias espécies especializadas neste habitat. A ocorrência recente de fogos foi máxima nos matos baixos (onde 50% dos locais visitados tinham ardido), seguida dos matos altos (24%) e restantes habitats (0%).

 

Figura 1. Resultado da análise de correspondências. Cada ponto representa uma espécie de ave, com o respectivo código de nome. Pontos brancos representam espécies generalistas e pontos negros representam espécies especialistas. Para facilitar a leitura da figura, os pontos relativos aos locais foram retirados e foi desenhado um círculo a rodear a região do gráfico onde os pontos relativos aos vários usos do solo se localizam. Para cada uso do solo está indicada a percentagem de locais visitados com vestígios de fogos recentes.

Análise das variações estimadas para o período 1958-1995

Para estimar a variação no número de indivíduos de cada espécie de ave ao longo dos anos, a densidade medida em cada habitat foi multiplicada pela abundância do habitat nos vários anos. Por exemplo, se uma cotovia ocorreu em zonas agrícolas numa densidade de 2 casais/ 10 ha, então se seria 1000 ha de áreas agrícolas em 1958, deveriam ter ocorrido 200 casais em toda a área de estudo. Se essa área diminuiu para 500 ha em 1968, então a população de cotovias deverá ter baixado para 100 casais. A partir dos resultados observados para cada espécie, estas foram agrupadas em função de padrões de variação de abundância comuns ao longo dos 40 anos. Desta forma, foram identificados 4 grandes grupos de espécies. O primeiro grupo incluiu 14 espécies associadas a áreas agrícolas e matos baixos; estas espécies mostraram um declínio progressivo (-38%) das suas populações ao longo dos 40 anos. O segundo grupo incluía 26 espécies florestais, cuja estimativa de variação foi de um aumento de 100% na sua abundância. Nos restantes 2 grupos verificou-se uma flutuação não sistemática na abundância das espécies neles incluídas. A proporção de espécies especialistas foi muito superior no primeiro grupo, relativamente aos restantes.

Comentários

Newsletter