Gestão e Conservação da Biodiversidade de Florestas Mediterrânicas: o caso dos Sobreirais da Serra do Caldeirão

Joana Santana - ERENA
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Vegetação

As limpezas mecânicas do subcoberto constituem perturbações significativas nas componentes estruturais e composicionais das florestas mediterrânicas, as quais têm efeitos na vegetação que prevalecem ao longo de várias décadas após perturbação, particularmente ao nível dos estratos arbóreo e arbustivo (Figura 1). Quanto às comunidades herbáceas, estas surgem momentaneamente favorecidas pelas limpezas, atingindo valores de cobertura e riqueza específica mais elevados em parcelas muito recentemente limpas. A frequência com que as limpezas ocorrem surge também aqui como um factor que influencia a estrutura e composição da vegetação.


Nas florestas onde a exploração da cortiça é uma actividade regular, sujeitas a mais de uma limpeza do subcoberto por duas décadas, há lugar para um estrato arbóreo pobre, dominado por sobreiro e um subcoberto pouco estruturado e pobre em espécies, dominado por arbustos de crescimento rápido e com propagação por sementes (Figura 1) como a esteva (Cistus ladanifer), o estevão (Cistus populifolius), o tojo-molar (Genista triachantos) e o rosmaninho (Lavandula stoechas). Estes resultados reflectem a especialização da gestão florestal destas áreas na produção de cortiça, o que resulta no corte de pequenos sobreiros e a eliminação de outras espécies lenhosas durante as operações de limpeza, explicando assim a reduzida riqueza arbórea. Adicionalmente, a limpeza mecânica do subcoberto envolve a eliminação da parte aérea e subterrânea das plantas reduzindo o sistema radicular das plantas de regeneração vegetativa impedindo-as assim de rebentar; nestas condições as espécies pioneiras surgem de bancos de sementes no solo as quais conseguem colonizar a área livre de competição. De facto, a frequência de perturbação apenas afecta as espécies de recuperação lenta após limpeza do subcoberto mas não as espécies pioneiras.

Nas parcelas onde o subcoberto tem entre 20 e 50 anos, é possível encontrar já um estrato arbóreo mais rico ainda que poucas mais espécies arbóreas ocorram para além do sobreiro (Figura 1). O subcoberto destas parcelas é já no entanto muito denso e diverso, onde as espécies de crescimento rápido que dominavam nas parcelas limpas há menos tempo começam a ser substituídas por espécies de crescimento mais lento, de regeneração vegetativa, como o medronheiro (Arbutus unedo) e a urze-branca (Erica arborea), originando uma elevada heterogeneidade vertical (Figura 1). Por fim, nas florestas com subcoberto muito antigo, abandonadas há pelo menos 50 anos, há lugar para um estrato arbóreo mais rico, onde o sobreiro ainda dominante é acompanhado de medronheiro e urze-branca, os quais atingem a densidade máxima. O subcoberto continua a apresentar uma elevada cobertura de arbustivas, entre as quais espécies de elevadas dimensões como é o caso do medronheiro e urze-branca, que ganham importância, conduzindo a que todos os estratos de altura surjam bem representados.

Figura 1. Curvas de recuperação da vegetação após limpeza mecânica do subcoberto obtidas através de modelos aditivos generalizados. As áreas a sombreado representam os respectivos intervalos de confiança de 95%. No canto superior esquerdo de cada gráfico são dados o número de graus de liberdade efectivos, a % de variância explicada e o valor de probabilidade (*** P <0.001) associados a cada modelo.


Cogumelos

Os cogumelos são as estruturas reprodutivas (esporocarpos) de fungos que constituem elementos fundamentais na manutenção da vitalidade e saúde dos ecossistemas florestais. As espécies micorrízicas protegem as árvores de ataques patogénicos e ajudam-nas a obter água e nutrientes, enquanto as espécies sapróbias fomentam a degradação da matéria orgânica participando activamente no ciclo do carbono. Na Serra do Caldeirão existe uma riqueza micológica muito interessante, com a presença de diversas espécies ao longo do ano. Foram inventariadas na Serra 130 espécies diferentes, às quais se devem juntar pelo menos 31 espécies ainda não identificadas devido à complexidade taxonómica dos grupos respectivos. Estas espécies representam 34 géneros, na sua maioria ectomicorrízicos mas também incluindo alguns sapróbios, como por exemplo os agáricos. Na serra os cogumelos detectados com maior frequência são os cortinários, especialmente o cortinário-vulgar, e os lactários.

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