O surpreendente mundo das plantas

Maria Carlos Reis
Imprimir
Texto A A A

As plantas fazem parte do nosso dia a dia de forma tão indispensável e constante que frequentemente nem damos por elas. A verdade é que se nos debruçarmos por momentos sobre o seu mundo faremos descobertas surpreendentes e fascinantes.

Por mais insólito que nos possa parecer, podemos dizer que as plantas podem ver, comunicar entre si, têm a capacidade de reagir ao mais pequeno toque e, ainda, que conseguem calcular o tempo com uma precisão surpreendente.

Dito assim, poderá parecer que se trata de uma confusão, porque é aos animais que normalmente poderemos atribuir tais faculdades. Ou então tratar-se-ão de afirmações extraordinárias, que roçam os domínios da fantasia. Destas duas, vamos enveredar pela primeira parte da segunda opção. É que embora algumas destas capacidades só recentemente tenham sido identificadas pelos botânicos, as provas das outras são conhecidas por todas as pessoas minimamente sensíveis ao mundo natural e, em particular, ao extraordinário "Mundo das Plantas".

Poderemos então relatar alguns fenómenos relativamente comuns. Por exemplo, se um rebento for mantido numa caixa fechada, onde somente exista uma fresta por onde entre a luz do sol, facilmente se verifica que ele rastejará em direcção a ela. Esta pode ser uma das evidências que servem de base à afirmação de que "as plantas podem ver". Os girassóis, durante o pôr do sol, estão virados para Oeste, mas viram-se para Este durante a noite, para que possam apanhar os raios solares da alvorada. Eles continuarão a executar estes movimentos, durante vários dias, mesmo que sejam mantidos sob a mais completa escuridão, o que nos permite dizer que as plantas conseguem calcular o tempo, pois possuem um ritmo circadiano (diário) intrínseco. Existe, ainda, o exemplo de algumas plantas carnívoras, como a dioneia, que fecham as suas sedas sensíveis quando são tocadas não uma, mas duas vezes. Isto significa que, para além de serem sensíveis ao toque, conseguem contar!

As plantas também precisam de viajar. Para seres que se movem rapidamente como nós, elas são encaradas como seres de vida sedentária, pois estão enraizadas e raízes são sinónimo de imobilidade. Mas esta é, apenas, a visão mais simplista. Se pensarmos que, tal como todos os seres vivos, também a vida das plantas culmina com a produção de mais indivíduos, que tentarão reivindicar espaço para si e, dessa forma, alargar a área de distribuição da sua espécie, rapidamente concluimos que, para o fazerem, elas terão de viajar numa determinada fase do seu ciclo de vida - enquanto semente, ou mesmo na fase adulta. Deste último caso, poderá ser salientado o exemplo das "plantas imperialistas", como as silvas, que alargam os seus domínios através de caules exploratórios e que progridem de uma forma agressiva, através de espinhos que se agarram ao solo e que destroem a vegetação que encontram no caminho. Vão, assim, consolidando a sua ocupação. Mas as estratégias de propagação das sementes são, igualmente, diversas e espantosas. Veja-se o caso das giestas, que literalmente lançam as suas sementes a grandes distâncias. Quando as vagens aquecem durante o dia, o lado virado para o sol seca mais depressa do que o que está à sombra, o que cria uma tensão dentro da vagem, que acaba por dividi-la nas suas duas metades, catapultando as suas pequenas sementes em todas as direcções.

Mas para que as plantas consigam sobreviver, na maior parte das situações elas necessitam de estabelecer relações com outros seres vivos, pois vivem em comunidade. Apesar de muitas destas relações resultarem no prejuízo de uma das espécies intervenientes, existem muitas outras em que os benefícios são mútuos ou que, pelo menos, delas não decorre prejuízo para nenhuma das espécies envolvidas. É o caso dos animais que vivem no interior de plantas, de que são exemplos comuns as formigas. Elas são inquilinos de uma grande variedade de plantas, de que se destaca a acácia-chifre-de-búfalo, da América do Sul. Ela desenvolve espinhos de protecção, que são escavados pelas formigas rainhas, já acasaladas, que aí se instalam e fazem as posturas. Depois de nascerem, as jovens operárias patrulham a planta e qualquer insecto que nela pouse para se alimentar das suas folhas é imediatamente comido, o que serve os interesses da acácia.

Todas estas capacidades resultaram da adaptação evolutiva das diferentes espécies, a meios com características e requisitos distintos. Ao longo do tempo, elas tiveram, tal como os animais, de enfrentar inúmeros problemas, tais como evitar os inimigos, competir com as plantas vizinhas quando os recursos escasseiam, utilizando-os da forma mais eficiente e garantindo, simultaneamente, a replicação da espécie.

Comentários

Newsletter