Gramíneas

Miguel Porto
Imprimir
Texto A A A

Grama. Capim. Relva. Esta é a forma com que normalmente nos referimos a este grupo de plantas tão particulares, mas quantas vezes nos lembrámos de atentar um pouco mais nelas, compreendê-las e dignificá-las? Provavelmente nenhuma.

As gramíneas são uma vasta família de angiospérmicas (plantas com flor), tecnicamente designada Poaceae (ou Gramineae), de distribuição cosmopolita. A diversidade de espécies que pertencem a este grupo é enorme, cerca de 10000 espécies distribuindo-se por cerca de 650 géneros, apenas superada pelas orquídeas (Orchidaceae) e as compostas (Asteraceae), no universo do reino vegetal.

É uma família extremamente versátil pois, através desta miríade de espécies que contém, e não fugindo muito a uma morfologia padrão, conseguiu ocupar quase todos os tipos de habitat disponíveis, em todos os climas. Pertencem a esta família desde plantas muito pequenas, como a vulgar Poa annua que surge entre as pedras da calçada até aos bambus que podem exceder 30 metros de altura. Podem ser desde aquáticas, inclusivamente, de águas salgadas, até formar florestas ou viver nas fendas das rochas mais secas e desertos.

No entanto, no nosso país, as gramíneas nativas (a enorme cana, Arundo donnax, é uma espécie cultivada que se assilvestrou tornando-se invasora) são bastante mais modestas, só por excepção tomando grandes dimensões como é o caso do caniço (Phragmites australis), que pode atingir quatro metros de altura e que habita lugares pantanosos por todo o país.

Uma grande parte das gramíneas que se observam em Portugal optou por ser anual, em resposta ao clima mediterrânico que caracteriza boa parte do país, e, de certo modo consequentemente, de pequenas dimensões. A implementação desta estratégia, que aparece em muitas famílias de plantas no nosso país, permite a estas ocupar quer sítios muito secos no Verão, quer terrenos cultivados ou de qualquer outro modo frequentemente perturbados, como é grande parte do nosso território. As gramíneas anuais sobrevivem sem nenhum esforço especializado no sentido de resistir à secura porque se limitam a passar o Verão na forma de semente. Uma estratégia tão simples e de baixo custo como esta, e ainda assim, tão frutífera, facilmente se tornou “popular”, pelo que inúmeras espécies de gramíneas a usam. Podemos citar como exemplo as gramíneas das pastagens secas do sul do país – géneros Briza, Vulpia, Bromus, Stipa, Hordeum, Brachypodium, Taeniatherum, Gastridium, Aegilops, entre outros.

 
Taeniatherum caput-medusae, uma gramínea anual frequente em pastagens secas. O nome é alusivo ao comprimento exagerado das glumas e aristas.

Porém, há uma considerável diversidade de gramíneas perenes, que é sobretudo notável em habitats menos hostis, onde a humidade mais duradoura o permite. Em zonas pantanosas, o caniço é uma delas, mas também plantas dos géneros Cynodon, Holcus, Agrostis, Panicum, Molinia, Paspalum, que formam relvados especialmente verdes e densos no Verão em zonas húmidas; e a morraça (Spartina) nos habitats húmidos com influência marinha. Nos pinhais arenosos, nas zonas mais frias no inverno, pode geralmente ser encontrada Stipa gigantea, uma gramínea que no Verão adorna o campo com as suas grandes inflorescências douradas.

Algumas gramíneas perenes crescem de uma forma inusitada em locais muito secos, como é o caso de Hyparrhenia hirta, que habita vertentes rochosas muito quentes, e de Melica minuta, dos matagais xerofíticos.

Algumas espécies são muito frequentes mesmo em habitat citadino. É o caso de Piptatherum miliaceum, uma gramínea perene com a forma de uma graciosa cana, Hordeum murinum, as vulgares “espigas” das brincadeiras de infância e Poa annua, habitante frequente dos interstícios entre as pedras da calçada.

Comentários

Newsletter