Os pesticidas organoclorados, como o DDT, levaram quase à extinção de diversas espécies de aves de rapina e em particular do Falcão-peregrino, no entanto, um esforço mundial conjunto permitiu a sua recuperação.
Ao longo dos tempos, mas com especial relevância durante o século XX, o Homem vem estabelecendo uma ambígua relação de amor-ódio com as aves de rapina, quase sempre com claro prejuízo para estas últimas. Vulgarizaram-se as pilhagens de ninhos retirando-se os respectivos ovos ou ninhadas e foram sendo perseguidas directa e nalguns casos intensamente com armas de fogo, armadilhas e venenos.
No entanto, e ironicamente sem que se tenha apercebido durante muito tempo das consequências, o mais rude golpe infligido pelo Homem nestas belas aves, foi o fabrico e utilização dos pesticidas persistentes organoclorados, de uso generalizado após o final da segunda grande guerra, e que colocou no limiar da extinção algumas das mais preciosas e emblemáticas espécies destes predadores alados.
O despoletar do caso
Em 1960, a associação columbófila de Gales, preocupada por considerar que existia uma situação de excesso de predação sobre os seus pombos por parte do seu eterno inimigo, o falcão peregrino, desenvolveu uma campanha pública que visava retirar a esta ave o estatuto de espécie protegida, de forma a poderem controlar os seus efectivos, minorando assim aquilo que lhes parecia um impacto exagerado sobre os seus preciosos pombos.
Perante este cenário, o governo britânico encarregou o organismo estatal de conservação da natureza, que por sua vez contratou o British Trust for Ornithology, de elaborar um estudo acerca da situação do falcão peregrino na Grã-Bretanha, de modo a que se pudesse avaliar justamente a pretensão dos columbófilos.
Foi então organizado um inventário exaustivo da população de falcão peregrino, no qual participaram não apenas biólogos, mas também observadores de aves, falcoeiros, coleccionadores de ovos e guardas de caça, e que produziu os primeiros resultados após a Primavera de 1961.
Os resultados obtidos tiveram tanto de inesperado como de dramático: a população parecia em declínio acentuadíssimo, encontrando-se mesmo extinta nalguns locais onde não havia memória da sua ausência. Não só os efectivos pareciam escassos como o sucesso reprodutivo na época de criação era catastrófico.
Os trabalhos de recenseamento foram retomados ainda mais intensamente nos anos seguintes, mas os resultados obtidos e ansiosamente aguardados, foram ainda piores. Se em 1961 apenas 68% dos territórios estavam ocupados e só 25% dos casais tinham realizado posturas, em 1962, estes valores eram respectivamente de 56 e 23%, e em 1963 estavam ocupados 45% dos territórios e apenas 16% dos casais tinham produzido ovos. Já não havia dúvidas: o falcão peregrino estava a desaparecer!