O Bico do Tentilhão - Por uma ciência mais literária

Miguel A. Monteiro
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Jonathan Weiner recebeu o prémio Pulitzer pelo livro “The Beak of the Finch”, que relata um estudo sobre evolução nas ilhas Galápagos, e que foi agora editado em Portugal. Toda a obra de Weiner é um feliz encontro entre ciência e literatura.

 

“O meu objectivo é acompanhar a ciência sem me afastar da poesia”. É assim que Jonathan Weiner define o seu percurso como escritor, ao lembrar os tempos em que entrou para a Universidade de Harvard com o intuito de se licenciar em Biologia. Foram quatro anos em que Weiner escreveu poesia mas, ao que parece, o melhor elogio que recebeu foi que em cada poema havia uma frase bonita.

Em 1976 licenciou-se em Inglês e Literatura Americana e, no início da década de oitenta, entrou para a revista The Sciences. Em 1985 abandonou a revista com o intuito de escrever livros. O primeiro foi “Planet Earth” (Planeta Terra) que lhe traria notoriedade ao ser adaptado para uma série televisa com o mesmo nome. A série acabou por arrecadar um dos famosos Emmy.

Na obra seguinte, “The Next One Hundred Years”, Weiner aborda o destino do planeta face às consequências do aquecimento global. O livro recebeu a distinção do New York Times de Notable Book of the Year, em 1990.
No entanto, é com o best-seller “The Beak of the Finch”, de 1994, que recebe o prestigiado prémio Pulitzer, na categoria de não-ficção, bem como o Los Angeles Times Book Prize for Science.

O livro, que é editado em Portugal pela Caminho, e será lançado no dia 21 de Março às 18 horas por ocasião da abertura ao público do Parque de Natureza de Noudar em Barrancos, com o título “O Bico do Tentilhão – Uma história da evolução nos nossos tempos”, foi bastante bem recebido pela crítica. O New York Times considerou-o “admirável e essencial... soberbo na explicação de conceitos científicos e filosóficos de grande complexidade numa prosa lúcida” e, em Londres, o Sunday Times afirmava tratar-se de uma obra espectacular: “lê-se de um fôlego... o livro ideal para recomendar a qualquer céptico que pergunte: "Onde estão as provas da evolução?"”.

“The Beak of the Finch” relata a história de um casal de biólogos – Peter e Rosemary Grant – que, durante mais de vinte anos, estudou os tentilhões de uma ilha das Galápagos (os mesmos tentilhões que inspiraram o génio de Charles Darwin a desenvolver a teoria da evolução). O trabalho dos Grant revelou que a evolução, através da selecção natural, não é necessariamente um processo lento que se desenrola ao longo de milhares de anos, mas que ocorre diariamente (já nos anos 30 do século passado, Theodosius Dobzhansky registara importantes flutuações anuais no pool genético da mosca Drosophila pseudoobscura). E este é um ponto fulcral para compreender o sucesso do livro de Weiner: apresenta a evolução num intervalo de tempo que o leitor comum consegue facilmente absorver.

Ao fazê-lo, Weiner transforma “The Beak of the Finch” num veículo de divulgação científica, capaz de suscitar debates e informar os cidadãos e, porventura, capaz de inspirar jovens a seguirem uma carreira científica. Como Weiner refere, se as pessoas compreendessem a evolução não se teriam criado problemas como o uso excessivo de pesticidas ou a aparecimento de estirpes de bactérias multi-resistentes.

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