Fauna selvagem atropelada – Um problema ignorado

Manuel Nunes (texto) e Jorge Nunes (fotografia)
Imprimir
Texto A A A

Anualmente milhões de vertebrados são atropelados nas estradas europeias e ibéricas. A informação disponível para Portugal é ainda limitada, mas as listas existentes registam um número elevado de animais, incluindo de diversas espécies ameaçadas.

 

Em Portugal, a mortalidade de animais selvagens por atropelamento apenas recentemente se tornou matéria de investigação. Os escassos trabalhos entretanto realizados, vieram confirmar os piores receios: milhares de animais, de dezenas de espécies, muitas das quais ameaçadas, morrem atropelados anualmente às mãos de um tráfego automóvel em constante crescimento.

Durante as últimas décadas, assistiu-se em Portugal a uma significativa expansão da rede viária, facto que encontra paralelo em todos os países europeus, onde a necessidade de mobilidade ditada pelas sociedades modernas resultou na criação de gigantescas redes de infra-estruturas viárias. Para além das evidentes transformações na paisagem original e, consequentemente, nos habitats naturais interceptados por estas estruturas, a proliferação das redes de transportes teve como consequência um acentuado incremento dos impactes ambientais, nomeadamente sobre a fauna selvagem. A situação tornou-se de tal forma grave que a União Europeia e o Centro Europeu para a Conservação da Natureza, decidiram promover a elaboração de um manual – European Handbook on Habitat Fragmentation due to Linear Transportation Infrastructure – e constituir uma associação, a IENE (Infra Eco Network Europe), com o intuito de promover uma rede europeia de vias de transporte sustentável e compatível com a conservação da biodiversidade.

Entre os múltiplos efeitos que as estradas têm sobre os vertebrados, a generalidade dos investigadores tende a considerar o efeito barreira e a mortalidade por atropelamento como os mais graves. Tendo em conta que a maioria das estradas exerce uma permeabilidade selectiva – alguns animais conseguem atravessá-las e outros não – a tentativa dos animais em ultrapassá-las acaba por provocar o seu atropelamento, acentuando a fragmentação das áreas vitais e dificultando ou impedindo o acesso dos animais a territórios de alimentação ou de reprodução. Alguns autores não hesitam mesmo em considerar a estrada como um «predador generalista» que mata tudo aquilo que encontra ao seu alcance, facto que talvez ajude a explicar os números deste problema ambiental: 10 milhões de vertebrados mortos anualmente nas estradas espanholas; cerca de 1 milhão de animais atropelados diariamente nos Estados Unidos; mais de 7 milhões de aves atropeladas anualmente na Bulgária; 40 milhões de aves mortas em cada ano no Reino Unido e cerca de 15 milhões de anfíbios atropelados anualmente na Dinamarca.

Comentários

Newsletter