Comércio de cabeças de Víbora-cornuda em Portugal

José Carlos Brito
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Em diversas situações, temor e admiração misturam-se, dando resultados surpreendentes. Temida pelas suas mordeduras venenosas, a Víbora é também considerada um amuleto. Este é um dos motivos para o declínio das suas populações.

 

Os répteis, com algumas excepções, como são os casos dos cágados e dos camaleões considerados como bons animais de estimação, são perseguidos pelo Homem desde há milhares de anos. Esta perseguição resulta de terem tido, desde sempre, uma má reputação, sendo considerados por um grande número de pessoas como animais repugnantes e daninhos, participando em todo o tipo de fábulas e lendas.

Esta reputação tem profundas raízes culturais, motivos psicológicos e, inclusivamente, religiosos. No caso das serpentes, associadas à serpente do Jardim do Paraíso, a Adão e Eva e ao Pecado Original, sempre foram consideradas, em particular pela cultura judaico-cristã, como representantes do Mal e, por isso, perseguidas. As serpentes provocam sempre reacções intensas nas pessoas, quer estas habitem nas cidades e nunca as tenham visto, quer vivam em áreas rurais onde as serpentes abundam. Num estudo feito na Grã-Bretanha, de um total de 11960 crianças entrevistadas por uma televisão acerca do animal que menos gostavam, as serpentes lideravam a lista com 27%. Num outro estudo realizado por um jornal, através de inquéritos a adultos e crianças, 24% consideravam as serpentes como o animal menos simpático (Dodd, 1987).

Por estes motivos, quando as serpentes são vistas, geralmente são mortas, particularmente no hemisfério Norte, onde a religião judaico-cristã está mais arreigada. Existem vários relatos de serpentes mortas deliberadamente em toda a Europa, durante o século XIX e princípios do século XX, com a extinção de várias populações: (1) em Espanha, em meados dos século XIX, foi extinta uma população insular de Víbora-cornuda, nas ilhas Columbretes (Bernis, 1968). Entre 1856 e 1859, durante a construção de um farol, chegaram-se a matar 70 víboras apenas nalguns dias. Até final das obras foram mortas 2700 víboras; (2) em França, Vipera aspis foi extinta nos bosques circundantes de Paris (e.g. Fontainebleau) (Lescure, 1994); (3) na Roménia e Áustria, Vipera (ursinii) rakosiensis foi extinta por morte deliberada e por captura de indivíduos para museus e coleccionadores privados (Langton and Burton, 1997).

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