Plantas carnívoras... os monstros terríveis do passado?

Otília Correia e Miguel Porto
Imprimir
Texto A A A

As plantas carnívoras originaram uma mitologia que as apresentava como monstros terríveis, capazes até de vitimar pessoas. São, no entanto, bem mais modestas! Só poderão aparecer como monstros aos olhos dos insectos ou de outros pequenos animais que conseguem capturar.

A descoberta das plantas carnívoras no Sec XVIII deu origem a ideias muito bizarras e mitos no passado. Existem muitos relatos onde se dá a notícia de naturalistas ou exploradores que durante as suas viagens por regiões remotas se deparavam com alguns destes seres monstruosos, dos quais só muito dificilmente se libertavam ou então não mais regressavam. Em regra, eram consideradas "monstros terríveis", difundindo aromas deliciosos com que atraíam as vítimas - aves, macacos, cães e mesmo homens - para depois as envolverem em fortes tentáculos providos de sugadoiros, que as despojavam do sangue e da carne com os quais se banqueteavam. Alguns dos títulos de histórias do passado são bem ilustrativos destes mitos: "A flor da morte", "A videira Carnívora", "A árvore cobra", "A árvore que apanha macacos" "Uma árvore devoradora de Homens" e muitos outros.

Na realidade, as plantas carnívoras não são os montros terríveis descritos no passado. Só poderão aparecer como monstros hediondos aos olhos dos insectos ou de outros pequenos animais, os únicos que são capazes de digerir.

As plantas carnívoras, também denominadas insectívoras, representam um caso muito particular de adaptação de algumas espécies vegetais, pois capturam geralmente insectos para reforçar as suas necessidades alimentares. Encontram-se normalmente em habitats oligotróficos, muito pobres em nutrientes minerais, sobretudo azotados. Nestes habitats normalmente encharcados, quase sem solo, onde a decomposição da matéria orgânica é muito lenta, muitas plantas têm de completar o regime alimentar através da digestão de insectos ou outros pequenos animais, em vez de os obter a partir do solo. Esta capacidade de digerir organismos animais, não constitui mais do que uma fonte adicional da nutrição, e nunca um requisito essencial à vida, já que ao contrário das parasitas, são espécies que desenvolvem órgãos fotossintéticos com capacidade de assimilar a sua própria matéria orgânica, o que lhes permite, quando dispõem de condições adequadas, desenvolverem-se até à floração e maturação das sementes sem recurso à digestão adicional de insectos.

Esta capacidade de se alimentarem à maneira dos animais, conservando ao mesmo tempo o mecanismo autotrófico, exigiu ao longo da evolução o aparecimento de uma série de adaptações anatómicas e morfológicas que lhes permitem a captação, retenção e digestão das presas. Possuem métodos muito aperfeiçoados para capturar as suas presas, podendo-se distinguir vários tipos de armadilhas, algumas delas bastante sofisticadas: as pegajosas ou adesivas, as escorregadias, as urnas ou ascídeas, as articuladas e as que aspiram as vítimas. Estas por sua vez são classificadas em armadilhas activas ou passivas conforme envolvam movimentos násticos da própria planta ou não. Contudo, qualquer que seja o tipo de armadilha utilizada, o sucesso deste tipo especial de alimentação carnívora, resulta da presença de enzimas digestivas capazes de utilizar proteínas animais.

Comentários

Newsletter